O colombiano Carlos Mario Mejia Orosco, preso por tráfico internacional de drogas, foi o último detento a deixar o presídio do Ahú, na terça-feira passada, por volta das 16h30. Ele estava na cela 615, na sexta galeria, no segundo andar. Orosco passou os últimos nove anos no local e foi transferido para o COT (Centro de Observação e Triagem Criminológica), onde vai aguardar a extradição do país.
Orosco foi o último de milhares de presos que passaram pelo presídio imenso grupo formado por presos políticos, líderes de facções criminosas e até por artistas, como o pintor Oséias Leiva Silva, detento que tem quadros expostos em galerias européias e que ilustram catálogos de empresas multinacionais. Até a semana passada, seu ateliê ficava na Prisão Provisória do Ahú. Ele passou 12 anos no presídio, condenado por latrocínio.
Perseguição
Os presos políticos intelectuais, estudantes e líderes sindiciais renderam um livro, do jornalista catarinense Políbio Braga. Ahú, Diário de uma prisão política foi lançado no ano passado. A obra relata suas memórias de cárcere dentro da cela 102, na primeira galeria, onde permaneceu dois longos períodos nos anos de 1966 e 1972. Braga teve como colegas de cela guerrilheiros que lutaram contra o regime militar.
O advogado João Bonifácio Cabral Júnior, atual diretor jurídico da Itaipu Binacional e presidente do conselho de administração da Copel, esteve entre os presos políticos do Ahú. Ele ficou 18 meses detido, entre 1968 e 1970. Foi preso por lutar pela redemocratização do país.
Cabral dividiu o lugar com outros estudantes numa antiga sala-de-aula, transformada em grande cela. Na época os presos políticos tinham contato com os criminosos comuns quando iam pegar sol e nas partidas de futebol. Também viveram a situação o livreiro Aristides Vinholes, o político Agliberto Vieira de Azevedo, do partido comunista no Paraná, o gráfico Orlando Ceccon e Oto Bracarense Costa, que foi líder bancário e secretário no governo José Richa, na década de 80.
Famosos
O atual diretor do presídio, Adib Tuffi Júnior, lembra o nome de alguns criminosos famosos que estiveram no Ahú nos últimos 22 anos. "José Márcio Felício, o Geléia, ex-chefão do PCC; João Maverick, condenado por latrocínio; os irmãos Oliveira, conhecidos seqüestradores e assaltantes de banco; e Renato Rodrigues Trevisan, que matou a filha de 4 anos e jogou o seu corpo no litoral", lista ele. "O Geléia, apesar de perigoso, sempre pareceu ser muito educado. Ele procurava não aparecer." Já João Maverick (o apelido surgiu porque ele dirigia para ladrões de banco) passou cerca de 30 anos no local. Ele foi o único a cumprir pena máxima no Ahú. Deixou a unidade há cerca de dois anos.
Tuffi lembra ainda que nas últimas duas rebeliões, em 1993 e 2000, não se ouvia falar como hoje nas facções criminosas. "A rebelião de 93 começou na terceira galeria, porque um preso se revoltou por causa de uma punição. A rebelião de 2000 teve alguns reféns oito agentes penitenciários, um técnico e um pastor", contou.