Cerca de 450 quilômetros de estrada separam Flórida (Noroeste do estado) e Doutor Ulysses (Grande Curitiba). Mas, no que se refere à qualidade da saúde pública, a distância entre as duas cidades é ainda maior. Os municípios representam os extremos do Sistema Único de Saúde (SUS) no Paraná, segundo o Índice Ipardes de Desempenho Municipal (IPDM) relativo ao ano de 2009 o mais recente, divulgado no fim do ano passado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
Com 2,5 mil habitantes, Flórida obteve o melhor desempenho em saúde do estado, com índice de 0,9931. Na outra ponta, Doutor Ulysses, com uma população de 5,7 mil pessoas, registrou o pior índice (0,3612) entre todos os 399 municípios paranaenses.
Curiosamente, a estrutura de saúde primária da cidade vizinha à capital é maior que a de Flórida. Doutor Ulysses tem cinco unidades básicas de saúde (UBS), uma unidade móvel, um clínico geral, um pediatra e um ginecologista. Já o município do Noroeste tem apenas uma UBS, um médico do Programa Saúde da Família, um clínico geral, um plantonista e um obstetra que atende uma vez por semana. Mas então o que explica tamanha diferença?
Segundo o diretor do Centro Estadual de Estatística do Ipardes, Daniel Nojima, a condição socioeconômica da população é determinante para o abismo que separa os índices das duas cidades. "Áreas em que o indicador de pobreza é alto, pesa muito o comportamento do cidadão, que não tem conhecimento, não procura os serviços oferecidos", explica.
Uma das cidades mais pobres do estado, Doutor Ulysses não tem estradas de acesso pavimentadas, o que dificulta o desenvolvimento da cidade. A prefeitura depende basicamente do Fundo de Participação de Municípios (FPM). "A estrutura que temos não é ruim, mas o isolamento geográfico, social e econômico interfere na qualidade de vida da população", explica a ex-secretária municipal de Saúde, Salete Westley de Paula, que ainda é funcionária da pasta. Além da saúde, a cidade também é a detentora do pior índice da educação no Paraná.
Critérios
A elaboração do IPDM da saúde é feita com base em três critérios: número de consultas pré-natais, óbitos por causas mal definidas e óbitos de crianças com até 5 anos por causas evitáveis. Para Nojima, é provável que a taxa de mortalidade infantil tenha sido o fator decisivo para que o índice de Doutor Ulysses ficasse tão baixo, embora o número absoluto de óbitos infantis na cidade por ano seja pequeno. O problema parece estar na taxa de fecundidade do município. "A taxa de fecundidade tem baixado no Paraná. Uma ou duas mortes já causam oscilação no índice", explica.
A única semelhança entre Flórida e Doutor Ulysses é a necessidade de recorrer a cidades vizinhas quando o caso exige internação ou exames de alta complexidade. Em Flórida, a maior dificuldade é com relação à obstetrícia. Sem hospital, os partos são encaminhados para Mandaguaçu, Astorga, Nova Esperança e Maringá. "Muitas vezes, o encaminhamento é rejeitado pelos atendentes. Já tive que acordar secretário de Saúde para garantir o atendimento", conta o secretário municipal de Saúde, João Cornélio de Souza Filho. O mesmo procedimento é prática em Doutor Ulysses, que encaminha suas gestantes e pacientes graves para Curitiba.