Às vésperas de enviar o “pacotaço” à Assembleia Legislativa, o governador Beto Richa (PSDB) reuniu a cúpula de seu secretariado e apresentou, passo a passo, o projeto. Muitos manifestaram contrariedade. Afetar direitos dos trabalhadores seria arriscado e poderia acabar como um tiro no pé. “Vocês vão abrir as portas do inferno”, teria dito o líder do governo, deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB). Ele não confirma – nem nega– que tenha dito a frase quase profética. Depois da tentativa de aprovar os projetos, o governo se viu diante de uma greve sem precedentes. Coube a ele – Romanelli – e ao secretário-chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD), os principais papéis na negociação com os professores.
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Leia a matéria completaConsiderados homens de confiança do governador, Sciarra e Romanelli compõem a voz do Palácio Iguaçu. Têm perfis distintos, mas que parecem ter se complementado no combate à crise. O chefe da Casa Civil, por exemplo, adotou uma postura low profile: evita dar entrevistas e rechaça o rótulo de principal articulador do governo. É apontado por assessores e sindicalistas como o homem prático, mas “durão” – com direito a jogo de cintura, desenvolvido na vivência empresarial (foi presidente da Associação Comercial de Cascavel) e política (foi secretário de Indústria e Comércio e deputado federal).
“Tivemos reuniões formais de mais de doze horas, além de longas reuniões informais. Disposição para o diálogo, nunca faltou. Faltou flexibilidade do sindicato”, disse Sciarra, depois de os professores terem decidido manter a greve. “Agora, acabou a conversa. É na Justiça”, completou.
Romanelli por sua vez tem adotado um tom mais conciliador. Talvez tenha sido o ente político que mais sofreu na pele as consequências de defender o governo na tentativa de aprovar “pacotaço”. Foi exaustivamente vaiado por professores que lotaram a Assembleia, quando o projeto seria aprovado em comissão geral. Após uma reunião com grevistas, decidiu ir a pé do Palácio à Assembleia: acabou cercado por professores e xingado de “vendido”.
“Eu ando entre manifestantes, mesmo com eles me vaiando. Eu me iniciei no combate à ditadura, participei ativamente do movimento ‘A Copel é nossa’. Entendo as manifestações. Democracia é isso”, apontou. “Converso com todo mundo. Até com os mal criados”, destacou.
Apesar disso, teve um papel determinante na contenção da crise. Costurou posicionamentos com deputados e se reuniu informalmente inúmeras vezes com professores e sindicalistas. Isso sem contar as reuniões com a cúpula do Palácio Iguaçu. “Eu virei o inimigo público número um, mas quem acompanhou de perto sabe da interlocução que fiz”, disse. “As negociações esgotaram a pauta. A greve tinha que terminar”, avaliou.
Na mesa
Foram três rodadas de negociações, a portas fechadas. Nenhuma durou menos de seis horas. Quem esteve à mesa garante que o embate entre governo e grevistas foi cordial, sem alterações. O Palácio Iguaçu chegou a pensar que o acordo seria firmado, mas os professores refutaram as ofertas e mantiveram a greve.
“Particularmente, estou pessimista. Acho que a direção [do sindicato] estimulou demais a reação dos professores, ficaram satanizando todo mundo e não preparam a categoria para o fim da greve”, observou Romanelli. “Por outro lado, a imprensa meio que romantizou o movimento. Nós viramos os bandidos e os professores, os heróis. O Beto [Richa] não é uma pessoa que quer fazer o mal. Mas temos um problema objetivo que é a falta de caixa”, pontuou.
Família
Sciarra é engenheiro, formado na FAAP, em São Paulo. Tem dois filhos, mas, “fechadão”, não abriu espaço para falar sobre a família ou a vida pessoal. Romanelli tem formação em Direito. É casado e tem quatro filhos. Dizem que estão acostumados com a política, mas, vez ou outra, se envolvem em “aborrecimentos” por causa de sua ação como deputado. Aficionado por motocicletas, o líder do governo na Assembleia não vê a hora de o recesso chegar, para esfriar a cabeça pilotando sua BMW Big Trail, tal qual um Easy Rider. “Faz um bem danado. Mas, por enquanto, temos que resolver esses problemas. Ser líder do governo é isso: resolver problemas”, definiu.
Papel secundário
O secretário estadual de Educação, Fernando Xavier Ferreira, também compôs a mesa de negociações, mas não foi capaz de se destacar. Advindo do setor das telecomunicações, ele não conseguiu conquistar a confiança dos educadores. Acabou sendo relegado a um papel secundário nas reuniões. “Ele não entendia nada de educação, da dinâmica, da estrutura da rede. Nas negociações, tínhamos que parar e explicar a ele de que se tratava cada ponto, como a coisa funcionava”, disse uma sindicalista, que pediu anonimato.
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