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Os 200 anos da Revolução Francesa, em 1989, foram comemorados pela pesquisadora lapeana Maria Thereza Brito de Lacerda com trabalho braçal. Ela entrou na equipe que deveria formular um Boletim da Casa Romário Martins sobre as relações entre França e Curitiba já sabendo que teria de gastar muita sola de sapato. "Liguei para amigos franceses. Montei um questionário. Vasculhei a lista telefônica. Tive de recorrer a meu círculo de amizades", lembra, sobre como montou 11 pastas de documentos a respeito de um assunto que muita gente jurava não ultrapassar duas páginas.

Os documentos, transformados na revista Os franceses em Curitiba, têm o sabor de um saco de jujubas. Passa por 1718, quando um navio pirata francês atacou um galeão espanhol carregado de ouro e prata. Uma verdadeira sessão da tarde. Ganha tinturas épicas com a passagem do pintor Jean-Baptiste Debret, em 1827. E toques libertários, feito a obscura colônia Thereza do Ivahy (1847), cooperativa trágica do médico Jean Maurice Faivre no centro do estado, derrotada pela distância e pelas doenças tropicais.

Maria Thereza Brito de Lacerda não deixou escapar a pitoresca fauna humana exportada da França – lista Philippe Sarty, que abriu uma padaria na Rua Treze de Maio, por volta de 1859; e as freiras, em especial mère Julia e madre Léonie, entre outras que a autora conheceu, inclusive como aluna do Nossa Senhora de Lourdes, das irmãs de São José de Chambéry.

Em 1952, Maria Thereza ganhou uma bolsa da Aliança para estudar na França. Era o pós-Guerra, o país estava sendo reconstruído e o que viu, uma nação a nervos expostos, acabou confirmando o espírito francófilo da brasileira. Uma união de quase 30 anos com o zoólogo francês Jean Dobignies amarrou a história com laço de fita. "Falava tanto francês em casa que quando eu voltava para o trabalho, me atrapalhava no português", lembra a mulher que aprendeu, inclusive, a se divertir com as particularidades de sua segunda pátria.

Foi o que fez na crônica "Franceses e Brasileiros", publicada no livro A lida da goiaba (2000). Em outro escrito, para o Boletim da Casa Romário Martins intitulado Mère Julia do Cajuru usou sua inequívoca verve de cronista para atrair raios que quase a partiram. No texto "Em Busca do Colégio Cajuru Perdido, à maneira de Dalton Trevisan" tratou dos rigores da educação religiosa francesa. Contemporâneas lhe viraram a cara. E o jornalista Aramis Millarch fez uma longa defesa da escritora nos jornais. É mesmo uma longa história.

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