Medicina
Esse tipo de lesão tem pior prognóstico
O tiro que atingiu as costas de Monik Pegorari de Lima causou uma lesão medular na altura das vértebras T7 e T8, na parte torácica da coluna vertebral. Esse tipo de ferimento afeta os nervos, que partem do cérebro e vão para os membros, comprometendo a função daqueles que estão abaixo da região atingida.
O médico Paulo Alvim Borges, cirurgião de coluna do Hospital Sírio Libanês, explica que a coluna torácica é aquela que tem o menor índice de lesão, mas os prognósticos são piores. "O canal por onde a medula passa na coluna torácica é muito estreito e a chance de ser uma lesão grave e ter sequelas é maior", diz.
Dependendo da gravidade da lesão, o prognóstico pode variar. Borges explica que uma parcela significativa das pessoas com esse tipo de lesão tem algum tipo de melhora, mas a recuperação de movimentos só ocorre em uma minoria. "A recuperação neurológica é imprevisível. A medicina não avançou muito nesse ponto", pondera.
Levantar, sentar e andar. O que é banal para muitos virou um desafio para Monik Pegorari de Lima, de 28 anos. Cinco anos depois de levar um tiro nas costas em um assalto que terminou na morte de seu namorado, Osíris Del Corso, no Morro do Boi, no Litoral do Paraná, ela conseguiu ficar de pé sozinha. Monik já engatinha, anda de joelhos e está treinando os primeiros passos, tudo isso depois de ter ouvido dos médicos que nunca andaria normalmente.
Para se recuperar o quanto antes, Monik deixou Curitiba e foi morar no Nordeste com a irmã. O pai e irmão dela vivem no Mato Grosso do Sul. É a família que dá apoio e banca as despesas do tratamento de reabilitação.
E a rotina é puxada. Ses sões de fisioterapia e condicionamento físico ocupam os cada dia da semana de Monik. Não tem feriado, nem fim de semana que virem desculpa para não treinar. Tanto esforço está dando resultado. "No último mês, eu consegui várias coisas que vinha tentando nesses cinco anos, como travar o joelho. Para conseguir andar, tem que ficar de pé, com o joelho travado. Essa foi a primeira vitória. Agora estou tentando dar os primeiros passos", conta. No meio da recuperação, um percalço: ela quebrou o pé quando escorregou da cadeira de rodas em uma descida e passou por cima do membro sem querer. Mesmo assim, a fisioterapia não parou.
Abelhas
Além do tratamento convencional, Monik faz sessões de apiteria, uma terapia alternativa que usa produtos originados das abelhas. "Depois de três meses fazendo esse tratamento meu resultado turbinou. A gente tem uma expectativa muito grande. O que era impossível, ficar em pé, eu já consegui", comemora.
A única folga dos treinos ocorre quando o time do coração, o Atlético Paranaense, joga no Nordeste. "Isso não tem jeito, porque é paixão", diverte-se. Monik faz questão de acompanhar o Furacão, mesmo que para isso tenha que viajar para outras capitais da região.
Em relação à recuperação física, a persistência de Monik tem sido seu ponto forte. "Eu sempre achei que era possível voltar a andar, mas os médicos diziam que não, que era para eu me conformar que eu não levantaria mais", desabafa. Um tratamento com células-tronco também está nos objetivos dela, mas ainda falta dinheiro.
"Meu pensamento é voltar a andar para retomar a minha rotina de vida. Esses cinco anos foram para correr atrás do prejuízo. Poderia ter terminado minhas faculdades, muita coisa que eu não pude fazer. Cinco anos que me foram roubados pelo atentado", pondera. Sobre o crime, ela é objetiva. "O que a Justiça determinar, está tudo bem. Ninguém mais correndo o risco de sofrer o que fizeram a mim e ao Osíris, estou satisfeita."
Terapia alternativa ajuda no tratamento
Uma terapia complementar está ajudando na recuperação de Monik. A apiterapia é um tipo de tratamento que usa produtos apícolas, como mel, pólen, própolis, geleia real, apitoxina (veneno da abelha por meio do próprio ferrão/picada) e ar da colmeia. Quem pesquisou e indicou o tratamento para a jovem foi a médica Isis Del Corso, irmã de Osíris, namorado de Monik e que foi morto durante o assalto no Morro do Boi.
Workshop
A médica fez um workshop da terapia depois da sugestão do coordenador da sua residência em medicina de família e comunidade. "Como desconhecia o assunto, fui por insistir em buscar algo de novo para tentar ajudar a Monik de alguma forma, mesmo sem saber se encontraria algo relevante", conta.
A intenção do tratamento é melhorar o funcionamento corporal como um todo, com foco na lesão medular. Isis explica que a geleia real ajuda bastante no sistema nervoso em si. O mel, por sua vez, estimula a formação de tecidos novos.
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