Próximo a uma das esquinas do calçadão da Rua XV de Novembro, em Curitiba, o ruivo de barba desgrenhada debulha um blues ao violão. Um pouco adiante, uma banda cujo cantor tem um sotaque lusitano arrastado ataca um rock visceral. Quadras depois, um portenho de cabelos engomados interpreta um tango pungente. Bem pertinho, um jovem de roupa social dedilha músicas clássicas.
Basta uma volta da Rua XV à Praça Osório para constatar: o cardápio musical oferecido informalmente pelos artistas de rua é amplo. Globalizado até, tamanha variedade de ritmos e nacionalidades, fundidos em forma de música. Como a lógica do espaço é dinâmica e democrática, não há pontos e horários fixos em que se apresentam – o que talvez aumente as chances de você se surpreender com o som que encontrar.
Há três anos, a rua é o palco de Davi Henn, que se apresenta como “a banda de um homem só”. Trocou os bares em que tocava pelo calçadão da XV e não se arrependeu. Além do dinheiro deixado na caixinha pelos transeuntes-espectadores, ele vendeu, de setembro para cá, mais de 5 mil CDs, gravados de forma independente. Notabilizou-se por tocar blues do Delta do Mississipi. Enquanto bate o violão, marca o ritmo com instrumentos de percussão adaptados e tocados com os pés.
“O legal é a surpresa. Tem velhinho e criança que para pra ouvir. É um público que não iria a um bar para me ouvir, por exemplo, mas que curte aqui na rua”, diz Henn.
A banda M.A.S.U. (Movimento Artístico Solidário Universal) aposta em composições autorais, com uma pegada rock’n roll, temperada pela mistura da naturalidade de seus integrantes: o português Mário Nobre (vocais e violão), o gaúcho Lucas Romero (vocais e violão) e o catarinense Gustavo Luiz (percussão). Acreditam oferecer ao público uma alternativa às músicas divulgadas no esquema comercial de gravadoras, rádios e tevês.
“O mercado de música está saturado por coisas muito parecidas. Hoje, para um produto vender, tem que ter determinada aparência, determinado timbre. Nós não nos enquadramos nisso. Temos que ser verdadeiros no que fazemos, tocar música com o coração. Não somos um produto” aponta Nobre.
Praça Osório vira palco de música clássica, tangos de Gardel e canções celtas
No início da Praça Osório, é possível topar com um jovem trajado à social, executando música clássica ao violão. A iniciativa é recente: Felipe Berger Carmona se iniciou como artista de rua no fim de janeiro, aqui em Curitiba. Ainda está experimentando, mas garante que já deu certo. “A gente oferece um tipo que música que as pessoas não têm acesso na mídia comercial. É gratificante fazer um concerto ao ar livre”, diz o rapaz, formado em composição clássica. Natural de Araraquara, em São Paulo, Carmona veio a Curitiba pedalando.
Também na Osório, os passantes podem degustar uma apresentação de tango. É ali, pertinho da fonte da praça, que El Pardo Marcial (nome artístico do argentino Marcelo) monta seu mini-palco e desfia tangos de Gardel e Alberto Castillo. Há 16 anos, o músico portenho se apresenta nas ruas, percorrendo países da América Latina.
“Quando comecei, achei que tinha que fazer na rua. À medida que os anos foram passando, eu fiquei mais convencido. Eu vejo a felicidade das pessoas quando se deparam com um espetáculo bem apresentado nas ruas. Ainda mais tango, que é um ritmo que as pessoas já ouviram, mas não encontram todos os dias.”
Igualmente incomum é o som celta da dupla Gaiteiros de Lume – composta pelo espanhol Xulio Lorenzo (gaita de fole) e pelo argentino Pablo Flores (percussão). Eles se conheceram em Curitiba e começaram a se apresentar na rua, com um repertório de música irlandesa. “As pessoas param porque é exótico. Muitas sequer tinham visto uma gaita de fole. Além disso, trocamos experiências com outros músicos de rua. É uma experiência nova e muito rica”, aponta Lorenzo, em bom portunhol.
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad
Vácuo de poder deixa Síria entre risco de Estado terrorista e remota expectativa de democracia
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora