Veja como funciona a "doAção"
A Bolsa de Valores Socioambientais (BVSA) é uma forma de aproximar investidores e projetos. "Numa ponta tem gente querendo doar e na outra tem o terceiro setor tentando buscar recursos", conta Sonia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da Bovespa. A bolsa prioriza o que chama de investimento social. "Todo investimento prevê um retorno. No caso dos projetos apoiados, eles geram lucro para a sociedade. Tem que ser uma ação transformadora", diz Sonia.
O objetivo é aumentar a quantidade de dinheiro destinado às ONGs. A BSVA, em tese, não concorre com as formas clássicas de doação em que a pessoa se identifica com uma causa ou é atraída pelo trabalho de uma determinada entidade e resolve colaborar. No modelo da BVSA, normalmente o doador tem interesse em colaborar e está procurando quem merece o recurso. A Bolsa oferece um cardápio de opções que considera confiáveis e o interessado escolhe de acordo com o tema, o público beneficiário ou a região do país e monta uma carteira de doAções. A maior parte dos recursos vem de empresas, que aplicam quantias superiores a R$ 1 mil. Mas a BVSA é aberta também para pessoas e o valor mínimo é de R$ 20, por meio de boleto ou cartão de crédito.
Em nove anos de existência, a BVSA já captou R$ 12,3 milhões para 118 projetos. O recurso é repassado integralmente para as ONGs nada fica com a Bolsa. Há o acompanhamento da gestão do recurso. O conselho consultivo conta com profissionais como o militante ambiental Fábio Feldmann. Um grupo de 50 profissionais também avalia os projetos. A potencialidade para virar política pública é uma dos critérios analisados. A BVSA dá prioridade para projetos menores, de R$ 30 mil a R$ 100 mil com mais dificuldade de captação de recursos. Entre os 14 projetos selecionados em 2012 pela BVSA estão dois paranaenses.
Serviço: Para fazer doAções ou mais informações http://www.bvsa.org.br/
Modelos
A venda de créditos de carbono criou um mercado global sujeito à lei de oferta e procura. Mais recentemente, um programa de milhagem decidiu permitir que os pontos acumulados pelos clientes se transformem em doações.
Confira aqui como funcionam alguns mecanismos de mercado usados na captação de recursos para projetos ambientais:
Cartão de crédito: parte da anuidade vai para a instituição que empresta seu nome para a estampa do cartão de crédito. Assim, quando o cliente adquire o cartão, passa a financiar as atividades da ONG.
Títulos de capitalização: o cliente paga um valor mensal por um período e depois resgata o investimento. Parte do valor vai para a ONG.
Ações em bolsa: aplicar em ações de projetos ambientais é uma forma de doação que tem rastreamento da destinação do dinheiro. Outro modelo que também é adotado é o de Fundos Verdes. Nesse caso, o dinheiro do investidor não vai diretamente para uma ONG. Mas ele tem retorno financeiro. Consiste em investir em ações de empresas certificadas, que demonstraram ter ações de responsabilidade ambiental. É considerada uma aplicação até mais segura que a média, já que as empresas estariam menos sujeitas a um escândalo ambiental capaz de derrubar o valor das ações.
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Instituições de proteção ao meio ambiente deixaram de ter as doações de ativistas e simpatizantes como única fonte de renda. Algumas delas também têm tentado fugir da dependência de recursos públicos. A saída encontrada por organizações não-governamentais (ONGs) foi se adaptar às regras de mercado e, assim, incrementar a captação de recursos para financiar projetos. Anuidade de cartão de crédito, venda de títulos de capitalização e até aplicação em ações de bolsa de valores estão entre as estratégias.
Algumas das iniciativas despertaram incredulidade até mesmo em profissionais de mercado, acostumados a pensar na lógica capitalista da negociação de produtos. "A primeira edição era de 100 mil títulos de capitalização e algumas pessoas duvidavam que seria possível negociar isso. Mas já passamos de 3 milhões de títulos", conta Mário Mantovani, coordenador de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica. O cliente que compra o título financia o plantio de árvores. "É difícil concorrer com outros que oferecem sorteio de carros de luxo e até de aviões, mas conseguimos", diz. Além de programas sociais, pelos menos dois outros projetos ambientais da Fundação Amazônia Sustentável e do projeto Tamar têm títulos de capitalização associados.
Pioneirismo
Mantovani afirma que uma das primeiras atitudes voltadas para a lógica de mercado foi o cartão de crédito associado ao SOS Mata Atlântica, em 1995. "Foi na época que virou moda o cartão afinidade, principalmente relacionado a times de futebol", conta. Foi um sucesso tão grande que hoje a ONG lidera o ranking, com 380 mil unidades. O número de cartões da SOS é, no mínimo, dez vezes maior que o do segundo colocado. "Nem o Corinthians pega a gente", brinca Mantovani. Ele reconhece que a estratégia também aproximou a entidade da população.
Uma das marcas do sistema capitalista a bolsa de valores também é usada como um instrumento de captação de recursos para projetos ambientais. A Bovespa tem uma plataforma destinada a atrair investidores para as chamadas "doAções". A Bolsa de Valores Socioambientais (BVSA) funciona desde 2003 selecionando projetos. A diferença para uma doação convencional é o intermédio da Bolsa que é quem arrecada os recursos e só repassa mediante garantias rígidas de prestação de contas e do acompanhamento do projeto. "O investidor conta com a credibilidade da bolsa e com esse aval. Ele já pula a etapa de saber se a ONG é séria. Aliás, o interessado em doar às vezes nem tem como conseguir informações sobre a instituição", frisa Sônia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da Bovespa.
A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) figura entre as entidades escolhidas pela Bolsa em 2012. O projeto Condomínio da Biodiversidade (ConBio) incentiva proprietários a manterem áreas verdes, prestando apoio técnico sobre conservação e sobre os passos para a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal.
Elenise Sipinski, coordenadora do ConBio, conta que o projeto existe desde 2001 e que a inserção da BVSA garante mais visibilidade à proposta. Também a ONG paranaense Mater Natura tem um projeto aprovado pela BVSA.
Avanço"Jogar o jogo" é uma iniciativa muito saudável, diz especialista
Para Sônia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da Bovespa, é um avanço que instituições de proteção ambiental tenham percebido como funciona o mercado. "Não tem mais espaço para radicalismos. Algumas ONGs que eram combativas passaram a sentar na mesa de negociação. Deixaram de ver o mercado como um demônio", comenta.
Adauto Basílio, consultor de captação de recursos de ONGs, acredita que "jogar o jogo" do mercado é uma iniciativa muito saudável no caminho de diversificar as formas de conseguir financiamento para projetos ambientais. Para Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica, a profissionalização das ONGs não pode ser considerada uma tendência. "Tem de ter que ter capacidade institucional para estar no jogo de mercado", diz. Ele complementa que é preciso trabalhar com muito mais transparência, promovendo auditorias, por exemplo, para se adequar ao sistema.
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