Desde a chacina do Bolsão Audi-União, os moradores têm obedecido ao toque de recolher que, segundo eles, é imposto pelos chefes do tráfico de drogas da região. Porém, a polícia não admite que o toque de recolher exista. "Não há toque de recolher em Curitiba e região metropolitana", afirma categoricamente o comandante do policiamento da Capital, coronel Jorge Costa Filho.
Outras vilas da cidade, porém, já viveram situações em que o crime estabeleceu horário máximo para a permanência da população nas ruas. Presidente do Conselho de Segurança da Cidade Industrial de Curitiba, Walter Cezar afirma que há três anos houve um caso na Vila Verde. Os traficantes do local avisaram que quem passasse depois das 22 horas pela região e não fosse estudante ou trabalhador estava ameaçado de morte. No Morro do Piolho, também na região do CIC, um grupo ligado ao tráfico conseguiu usar a rádio comunitária da região para informar do toque de recolher. "As coisas não são de hoje", diz ele.
Vulnerabilidade
A chacina do último sábado só demonstra que a população se encontra vulnerável, afirma o cientista político Pedro Bodê. "Estamos chegando ao extremo da falta de controle do poder público", diz. Segundo Bodê, se o bairro vinha apresentando elevação no número de homicídios, era preciso que houvesse políticas mais eficientes.
Dálio Zippin, da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), arfirma que o fato de uma gangue querer marcar território e estabelecer como as pessoas vão viver é um absurdo. "Mataram pessoas inocentes só para mostrar que, quando as quadrilhas prometem, elas cumprem. O Estado demonstra que perdeu para o poder paralelo quando uma milícia faz o que quer".