O ex-tesoureiro da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, Alan Jardim, disse nesta quarta-feira (12), na audiência de instrução e julgamento dos 25 policiais acusados do desaparecimento e morte presumida de Amarildo Souza, 43 anos, que ouviu "gritos enlouquecedores" nos arredores da sede da UPP, na noite que o ajudante de pedreiro sumiu, em 14 de julho do ano passado.
"Eram gritos terríveis, enlouquecedores. Isso durou 40 minutos", disse o soldado, primeira testemunha de acusação a ser ouvida na segunda sessão da audiência de instrução e julgamento do caso.
A primeira sessão aconteceu no último dia 20, quando foram ouvidas três das 20 testemunhas de acusação. Segundo o tribunal, nesta quarta ainda serão ouvidas 20 testemunhas de defesa.
Jardim disse ainda que a pessoa supostamente torturada dizia o tempo todo que não falaria, não responderia as perguntas. Ele afirmou que "ouviu barulhos de água como se tivesse acordando a pessoa". Em seguida, ouviu várias pessoas falando ao mesmo tempo. Depois, silêncio, e, na sequência, "várias pessoas gritando deu merda, deu merda".
Depois disso, ele conta que recebeu a ordem para pegar a capa de uma moto, e que ouviu barulho de fita crepe desenrolando.
Jardim disse ainda que, antes de ir embora, viu cinco pessoas se dirigindo para a mata, mas que não viu em nenhum momento o ajudante de pedreiro. Afirmou também que viu o major Edson Santos, comandante da UPP na época, se dirigindo à base da unidade.
Provas do crime
Ele lembrou que ouviu os gritos após ter recebido ordem para mudar de contêiner e realizar trabalhos apenas internos, sem sair do local. No dia seguinte do sumiço de Amarildo, foi buscar informações sobre a capa da moto, já que respondia pelo administrativo da UPP.
O soldado diz que recebeu ordens de limpar a capa da moto e retirar uma mesa branca manchada de sangue. Também havia um balde com água e sangue, conta. "No chão também tinham gotas de sangue". Jardim afirmou que as ordens que recebeu foram do tenente Medeiros (Luiz Felipe).
O PM conta que acabou quebrando a mesa e se desfazendo dela - ou seja, das provas do crime.
Jardim comentou também que o major fez reuniões antes dos PMs prestarem depoimentos na Divisão de Homicídios. Disse que viu dois soldados em pânico após a suposta sessão de tortura, mas não citou nomes.
Tortura
Na primeira sessão da audiência de julgamento, realizada no último dia 20 de fevereiro, o delegado Rivaldo Barbosa afirmou que o comandante da UPP da Rocinha, major Edson Santos, autorizou que seus subordinados torturassem o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza atrás do contêiner onde funcionava o posto policial na favela.
Em seu depoimento, Barbosa disse ainda que "pode haver outros Amarildos" na favela da Rocinha onde o pedreiro desapareceu em julho do ano passado. O delegado foi a primeira das 19 testemunhas de acusação a ser ouvida na primeira sessão da audiência.
Em seu depoimento, o delegado Barbosa admitiu que a investigação falhou à época porque não periciou o local exato onde Amarildo teria sido torturado. Na ocasião, a polícia percorreu apenas o caminho de entrada, o suposto trajeto de saída do morador e a parte interna dos contêineres. Mas o morador teria sofrido tortura atrás da unidade.
Barbosa disse ainda que todos os policiais que aparecem em imagens levando Amarildo de Souza participaram das torturas, que teriam começado por volta das 19h30 do dia 14 de julho do ano passado.
Não há previsão de quando o julgamento terminará.
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