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Saúde

Pacientes aprovam uso da “cola de sangue”

Usar o próprio sangue para auxiliar na cicatrização de cortes cirúrgicos parece coisa de filme de ficção científica, mas esse avanço já é possível graças a uma técnica que utiliza substâncias do sangue do próprio paciente para fazer uma espécie de cola. A "cola de sangue", como é chamada, foi criada por médicos americanos no início dos anos 90. Apesar dos inúmeros benefícios, contudo, era pouco utilizada. O preparo, que deve ser feito durante a cirurgia, até então era realizado manualmente e exigia mão-de-obra ultra-especializada por causa do risco de contaminação.

No ano passado, chegou ao mercado um equipamento capaz de produzir a cola sem esse risco e em apenas 20 minutos. De acordo com o cirurgião plástico André Auersvald, a grande vantagem da cola está no material ser o que se chama de autógeno, ou seja, derivado exclusivamente do paciente. "O risco de rejeição é muito pequeno", afirma. Para o preparo, são coletados 60 mililitros de sangue. A partir desse material a máquina produz um concentrado de plaquetas, que são células responsáveis pela coagulação, proliferação de vasos e reconstituição dos tecidos.

Funcionando como uma espécie de curativo inteligente, a cola adere aos ferimentos e cortes e auxilia na rápida reconstituição dos tecidos. Além da capacidade adesiva, o material, que tem uma quantidade de plaquetas até seis vezes maior que o normal do organismo, acelera a cicatrização, reduz a formação de coágulos, inflamações, sangramentos, hematomas, inchaço e cicatrizes. "Esse processo já era feito pelo próprio organismo, porém de forma mais demorada. Com a nova técnica, pode ser acelerado, reduzindo o desconforto", observa Auersvald.

A cola pode ser usada em diversos tipos de cirurgias, de plásticas a ortodônticas e cardíacas. No entanto, segundo o cirurgião, a técnica não substitui os procedimentos convencionais. O aparelho já teve o uso autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e somente na clínica de Auersvald a técnica já foi aplicada em mais de cem pacientes. "Constatamos que a cola reduz consideravelmente o tempo recuperação. Resultados que eram obtidos, em média, em 15 ou 20 dias após a operação começaram a aparecer dentro de sete dias a dez dias", destaca Auersvald.

Para quem se submete a uma cirurgia plástica a cola acaba tendo outros benefícios. Por se tratar de um procedimento que diminui o inchaço e facilita a cicatrização, os pacientes não precisam esperar tanto para conferir o resultado final. O empresário Haroldo Karpe realizou duas cirurgias na face: a primeira há sete anos; a segunda, há cinco meses. Para ele, a diferença entre as duas operações foi significativa. Na primeira, sofreu com dor, inchaço e hematomas. Na segunda, com a utilização da cola, não sentiu esses sintomas. "A recuperação também foi mais rápida", afirma. A empresária Cleonice Fernandes Costa também realizou duas cirurgias na face, uma em 2002 e outra em agosto do ano passado. Utilizando a nova técnica percebeu uma redução no inchaço do rosto e a ausência de hematomas. "No primeiro dia me olhei no espelho e vi cinco pontos. Mas na mesma semana já não tinha mais nada. Fiquei surpresa", revela.

Nos anos 80, foi desenvolvida uma cola de fibrina (proteína que participa do processo de coagulação). A diferença é que o material antigo era elaborado a partir de uma mistura de compostos humanos de um doador e proteínas bovinas. Na época, não havia tecnologia capaz de fazer a preparação durante a cirurgia, com sangue do próprio paciente. Além da cola autógena e da cola de fibrina, existem outras substâncias que agem como curativos inteligentes. Uma delas é uma gelatina de colágeno de porco, que veda o ferimento e estimula a coagulação, e a outra, um gel sintético, que também não oferece risco de infecção.

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