A Comissão de Direitos Humanos da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Londrina deverá recorrer à Organização dos Estados Americanos (OEA) para obrigar o governo brasileiro a fornecer medicamentos especiais para 51 pessoas. Os pacientes, que sofrem de doenças raras ou recém-descobertas, conseguiram na Justiça o direito de obter os medicamentos, mas o governo do estado recorreu das decisões, alegando "desequilíbrio financeiro", e as liminares foram cassadas pelo Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná. São 13 medicamentos especiais, de alto custo, que ainda não constam da tabela do Ministério da Saúde.

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Ontem, 40 pacientes viajaram cerca de 400 quilômetros para uma audiência com o presidente do TJ, José Antônio Vidal Coelho, mas voltaram para casa frustrados. Somente três representantes do grupo – o deputado estadual Tadeu Veneri (PT), o vereador de Londrina Tercílio Turini (PPS) e o relator da Comissão de Direitos Humanos da OAB Londrina, Jorge Custódio – foram recebidos. Segundo eles, não houve avanço.

O grupo, que tinha em mãos um abaixo-assinado com cerca de 20 mil nomes, também esteve na Assembléia Legislativa e protocolou uma carta na Casa Civil do governo do estado. No fim da tarde, os pacientes organizaram um protesto em frente ao TJ – formaram uma roda, vendaram os olhos e rezaram.

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Segundo Custódio, como não há possibilidade de recurso em relação às liminares cassadas, a comissão da OAB e organizações de defesa dos direitos humanos deverão ingressar com uma medida cautelar na Corte Interamericana da OEA, denunciando o Brasil por violação dos direitos humanitários. "Como o Brasil assina os tratados da OEA, o governo brasileiro deverá ser acionado para fornecer os medicamentos e poderá sofrer sanções."

Os medicamentos solicitados são para o tratamento de câncer de mama, lúpus, cirrose hepática, distrofia muscular, doença de Fabry, osteoporose, hepatite B crônica, cistinose, doença de Hodgkin, bexiga neurogênica hiperativa, cromomicose e doença isquêmica do coração. O empresário Alberto Luís Wusdt, 46 anos, sofre da doença de Fabry e duas vezes por mês precisa de duas doses do medicamento Algasidase Beta. Uma dose custa R$ 18 mil. "Estou desde fevereiro sem o remédio", revelou. A dona de casa Tereza Maria Costa, 65 anos, que sofre do coração e precisaria desembolsar R$ 300 por mês por dois medicamentos, acha que os governos federal e estadual deveriam ajustar seus orçamentos.

O presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, Ney Leprevost (PP), subiu à tribuna e pediu ajuda até para os deputados da base de apoio ao governador Roberto Requião. "É inconcebível que pessoas tenham que recorrer à justiça parar ter os medicamentos", disse. Segundo ele, a comissão protocolou um pedido de providências na quarta-feira passada, mas até ontem não havia resposta.

Por meio de sua assessoria, a Secretaria de Estado da Saúde informou que o assunto só poderia ser comentado pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE), que recorre das decisões. A reportagem entrou em contato com PGE, mas não houve retorno. Também por meio de sua assessoria, o TJ informou que não se pronunciaria sobre o protesto.