A operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (8) no âmbito do inquérito sobre o 8 de janeiro teve como um de seus alvos o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, que atua na diocese de Osasco, na Grande São Paulo, e foi alvo de busca e apreensão. O sacerdote é conhecido no meio católico brasileiro principalmente por seus vídeos sobre a doutrina cristã no Instagram, rede em que tem 289 mil seguidores.
A ação da PF visa suspeitos envolvidos em um suposto planejamento de golpe de Estado no Brasil, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, militares, assessores e aliados.
Na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o padre é mencionado como parte do "núcleo jurídico" do suposto esquema golpista. Esse grupo teria como responsabilidade o "assessoramento e elaboração de minutas de decretos", segundo o documento.
Relatos presentes no inquérito dizem que, no dia 19 de novembro de 2022, o padre José Eduardo participou de uma reunião com Filipe Martins e Amauri Feres Saad no Palácio do Planalto para discutir o suposto plano de golpe. Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro, foi preso nesta quinta no Paraná. Saad, advogado, está sendo identificado como o autor da "minuta golpista" que motivou a operação.
O STF determinou que o padre não poderá manter contato com os demais investigados nem se ausentar do país, devendo entregar seu passaporte dentro de um prazo de 24 horas.
Nas redes sociais, admiradores do padre pediram orações por ele e criticaram a atuação do STF e da polícia. "Isso não passa de terrorismo judicial! O objetivo é amedrontar o Clero, para que não coloquem os Mandamentos de Deus acima do estado. Rezemos pelo Padre José Eduardo, que está passando por esta grande tribulação", afirmou um usuário do X.
Também pelo X, a deputada Júlia Zanatta (PL-SC) criticou a operação e fez uma referência velada ao caso do padre Júlio Lancellotti, comparando o tratamento dispensado aos dois: "Hoje se superaram. Colocaram até o padre José Eduardo Oliveira entre os alvos. Claro que ele não terá a defesa ferrenha como aquele outro padre protegido da esquerda."
Alguns detratores do padre José Eduardo comemoraram a notícia sobre a operação e publicaram ofensas ao sacerdote. O jornalista Chico Pinheiro, por exemplo, afirmou que ele tem "publicações fascistoides" e trabalhou "pelo golpe militar de Bolsonaro". "Vergonha para a Igreja!", disse.
Padre defende respeito à Constituição e diz que sempre atuou nos limites do sacerdócio
Em nota de esclarecimento publicada nesta quinta, o padre afirma que não cooperou com qualquer ato disruptivo da Constituição. "Minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios", diz.
O sacerdote ressalta que sempre teve "a vida voltada para o atendimento ao público em geral" e que, desde sua ordenação, sua atividade "sempre foi desempenhada dentro dos limites previstos para o exercício do sacerdócio".
"Sou chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas. Como é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me apresentam são sempre de foro interno", afirma.
Confira a nota de esclarecimento do padre José Eduardo na íntegra:
Nota de Esclarecimento
Para tranquilizar os fiéis, os amigos e o público em geral, que demonstrou preocupação pela notícia veiculada no noticiário nacional, indicando ter havido busca e apreensão em minha residência, venho a público esclarecer o que se segue.
Agradeço, primeiramente, pelas diversas manifestações de carinho e preocupação, sobretudo pelas orações.
Na manhã do dia 8 de fevereiro, recebi a visita de agentes da Polícia Federal na Igreja onde resido e celebro diariamente a Santa Missa, apresentando-me mandato de busca e apreensão de meu passaporte, celular e o computador; mandato este expedido nas investigações do “inquérito dos atos antidemocráticos”.
Esclareço que os policiais foram extremamente respeitosos e técnicos, explicando-me que estavam cumprindo ordens. Agradeço à Polícia Federal pelo respeito e decoro com que me trataram e também aos meus pertences.
Como é de conhecimento de todos, sou padre e professor universitário, dedico minha vida ao exercício do sacerdócio e do magistério, especialmente nas áreas de filosofia e teologia, na qual sou doutor.
Como sacerdote católico, tenho a vida voltada para o atendimento ao público em geral. Sou pároco de uma pequena Igreja na periferia de São Paulo, na cidade de Osasco, e, no último dia 4 de fevereiro, completei 18 anos de ministério sacerdotal.
Desde minha ordenação, minha atividade ministerial sempre foi desempenhada dentro dos limites previstos para o exercício do sacerdócio: administração dos sacramentos, pregação, atendimento de confissão e direção espiritual, oração e bênção para aqueles que precisam de auxílio.
Como padre católico, atendo diversas pessoas. Sou chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas. Como é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me apresentam são sempre de foro interno.
Em relação ao referido “inquérito dos atos antidemocráticos”, minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios. Abaixo de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não coopei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo.
Estou inteiramente à disposição da justiça brasileira para qualquer eventual esclarecimento, recordando o dever de toda a sociedade de combater qualquer tipo de intolerância religiosa.
A única missão na minha vida é o meu trabalho sacerdotal. Por isso, preciso de um “tradutor” que me faça compreender os passos jurídicos decorrentes desta inusitada e inesperada situação e que me ajude a atender com precisão os pedidos do Poder Judiciário.
Por isso, constituo meu “tradutor” o Dr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, advogado, que saberá dar respostas jurídicas pertinentes ao assunto. Ainda não obtivemos acesso aos autos, o qual esperamos obter nos próximos dias.
Como sacerdote, pretendo continuar meu ofício religioso, portanto, toda e qualquer comunicação sobre o assunto pode ser direcionada diretamente ao meu “tradutor”.
Espero que tudo seja esclarecido o mais rápido possível. Estou em oração, especialmente pela justiça brasileira, para que Deus nos conduza sempre. Que Ele abençoe a todos!
Pe. José Eduardo de Oliveira e Silva
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