Um dos religiosos mais populares da Igreja Católica no Brasil, o padre Robson de Oliveira Pereira, reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), até semana passada, foi proibido temporariamente de realizar celebrações. Ele é investigado pelo Ministério Público de Goiás pelo suposto desvio de R$ 120 milhões em doações de fiéis. O dinheiro teria sido usado na aquisição de imóveis, entre os quais uma fazenda de R$ 6 milhões em Abadiânia (GO), e uma casa de praia, no valor de R$ 3 milhões, em Guarajuba, na Bahia.
Os promotores apuram os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação indébita, falsificação de documentos e sonegação fiscal. Por causa das suspeitas, padre Robson já havia sido afastado da reitoria do santuário e da presidência da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), responsável pela gestão das doações para construção do novo santuário do Divino Pai Eterno. O padre tem 3,9 milhões de seguidores somente no Facebook.
A suspensão da atividade sacerdotal do padre Robson foi comunicada, em nota, pela Arquidiocese de Goiânia, no domingo (23). Ele está proibido de celebrar de celebrar missas e casamentos, ouvir confissões e absolver pecados, e “participar, realizar e protagonizar programas de televisão, rádio ou internet” até janeiro de 2022. Robson realizava pregações diariamente na TV Divino Pai Eterno.
A nota é assinada pelo arcebispo de Goiânia, dom Washington Cruz, e pelo chanceler dom Levi Bonatto e tem como justificativa “a necessidade de prevenir escândalos, garantir o curso da justiça e tutelar a fé, bem como investigar as acusações realizadas contra o padre Robson de Oliveira”.
Em comunicado anterior, a Arquidiocese informou que a Afipe irá contratar uma "empresa idônea de auditoria externa, no sentido de ser realizada ampla e profunda apuração de documentos e dados" relativos à associação alvo de investigação do MP-GO.
Em vídeo divulgado no sábado (22), padre Robson havia manifestado o interesse em continuar com as orações transmitidas diariamente pela TV Divino Pai Eterno, o terço e a novena, logo após se afastar das atividades administrativas da igreja e da associação.
Em nota encaminhada à imprensa na noite de domingo pela assessoria, o religioso afirma que “recebe com humildade a revogação temporária do uso de ordens. Trata-se de um procedimento previsto no direito canônico” e que ele seria “o maior interessado no esclarecimento de todas as questões e na total transparência de todas as suas ações”.
O padre já havia se afastado . O padre André Ricardo assumiu o cargo de padre Robson na Basílica de Trindade.
Operação Vendilhões: entenda as acusações contra o padre Robson
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MP-GO deflagrou na última sexta-feira (21) a Operação Vendilhões, que cumpriu mandados de busca e apreensão em 16 endereços ligados ao padre Robson, inclusive na TV Pai Eterno. A ação policial foi autorizada pela juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais. Um pedido de prisão do padre chegou a ser solicitado pelo MP, mas a magistrada negou.
Na decisão, a juíza afirma que, "além da suposta utilização das doações dos fiéis para a aquisição de imóveis de elevado valor econômico, infere-se que investigados estariam envolvidos em um articulado esquema criminoso voltado ao desvio de verbas das Afipe e à consequente lavagem, dissimulação e ocultação dos recursos, por meio de "laranjas" e empresas de 'fachada' — com vistas a dificultar o rastreamento do dinheiro e posterior ressarcimento dos danos suportados pela entidade religiosa".
Sobre a transação da fazenda, a investagação do MP aponta que a "Afipe adquiriu a Fazenda Serenata e Monjolinho, em Abadiânia/GO da Agropecuária Nova e Eterna Aliança Ltda., pelo valor de R$6.308.000, em 17 de março de 2016, e que, mais de 3 anos depois, a Afipe vendeu o imóvel rural para a empresa Terra Nobre pelo mesmo valor, R$ 6.308.000. Salientaram que a Terra Nobre foi criada em 11 de abril de 2018 e, um ano depois, comprou da Afipe a Fazenda Serenata e Monjolinho, única transação imobiliária entre as citadas empresas".
O advogado Pedro Paulo Medeiros, que representa o padre Robson, afirma que os imóveis citados pelo MP fazem parte das aplicações da Afipe, cujo lucros foram destinados à construção da nova Basílica, à compra da TV Pai Eterno e rádios e à construção de igrejas.
A investigação teve início em 2018, quando padre Robson foi vítima de extorsão e teria pago R$ 2 milhões para não ter vídeos expostos na internet. O dinheiro teria saído do caixa da Afipe. Medeiros admite o pagamento da chantagem com recursos da associação, mas afirma que os pagamentos foram feitos de forma simulada sobre a orientação da polícia que investigava o caso.
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