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O padre Robson de Oliveira Pereira e mais 17 pessoas foram denunciados pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) por supostos crimes cometidos com as doações feitas pelo fiéis à Associação dos Filhos do Pai Eterno (Afipe). No início das investigações, o padre já havia sido afastado tanto da direção da Afipe quanto da reitoria do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO).
As doações dos fiéis são destinadas à construção da nova Basílica do Pai Eterno, em Trindade, mas, de acordo com o MP-GO, foram desviadas para outros fins, como compra de imóveis e favorecimento do membros do suposto esquema.
A denúncia foi apresentada pelo MP-GO na segunda-feira (7) ao juízo da Vara dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa e de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores. Caberá à Justiça decidir se aceita as denúncias e por quais crimes.
Com relação ao padre Robson, ele foi denunciado pelo MP-GO pelos crimes de organização criminosa, apropriação indébita, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. As denúncias dos demais variam de acordo com a participação apontada pelo Ministério Público no suposto esquema.
Ainda segundo o MP, os 17 denunciados participavam de núcleos diferentes do que chama de organização criminosa. São eles: núcleo operacional, núcleo dos laranjas, núcleo de uma das famílias envolvidas e núcleo dos beneficiários, do qual fazem parte familiares do sacerdote. Para o Ministério Público, o padre Robson comandava esse esquema. Já a defesa do religioso afirma que ele não cometeu nenhuma irregularidade.
As investigações tinham sido trancadas por decisão dos desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás, em outubro, mas puderam ser retomadas após decisão do presidente do TJ-GO, Walter Carlos Lemes, na última sexta-feira (4).
Ao Bom Dia Goiás, da TV Globo, o advogado do sacerdote, Pedro Paulo de Medeiros, afirmou que “não houve qualquer irregularidade praticada por padre Robson. Portanto, ele é e continua sendo inocente. Apenas se aguardará pela confirmação [da inocência] no Superior Tribunal de Justiça. Enquanto isso, o Ministério Público, se quiser, continuará investigando, mas não há necessidade para isso. Afinal, assunto da associação Afipe é da Afipe e não é do Ministério Público”, afirmou.
Operação Vendilhões
O Grupo de Atuação ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO deflagrou, em 21 de agosto, a Operação Vendilhões, que cumpriu mandados de busca e apreensão em 16 endereços ligados ao padre Robson. A ação policial foi autorizada pelo juízo da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais. Um pedido de prisão do padre chegou a ser solicitado pelo MP, mas foi negado pela Justiça.
À época, a juíza Placidina Pires afirmou na decisão que, "além da suposta utilização das doações dos fiéis para a aquisição de imóveis de elevado valor econômico, infere-se que investigados estariam envolvidos em um articulado esquema criminoso voltado ao desvio de verbas das Afipe e à consequente lavagem, dissimulação e ocultação dos recursos, por meio de 'laranjas' e empresas de 'fachada' - com vistas a dificultar o rastreamento do dinheiro e posterior ressarcimento dos danos suportados pela entidade religiosa".
A investigação teve início em 2018, quando padre Robson foi vítima de extorsão e teria pago R$ 2 milhões para não ter vídeos expostos na internet. O dinheiro teria saído do caixa da Afipe.