Crianças liam antes da escola
L. e J. começaram a vida escolar no 1.º ano do Ensino Fundamental. Antes de entrar na escola, ambos já sabiam ler e conheciam noções básicas de Matemática. L. está na 3.ª série e J. está matriculada na 2.ª série. O menino faz tae kwon do, e a garota é aluna de balé.
Luiz Carlos Faria da Silva garante que os filhos têm uma rotina normal. Eles brincam com amigos e não são isolados do mundo, garantindo o processo de socialização. "Eu ando de bicicleta, vou na casa da minha avó e estou fazendo aulas de tae kwon do", conta L., que também tem na leitura uma das atividades preferidas.
Os garotos não cumprem horários rígidos de estudo, mas mantém uma rotina diária entre livros e cadernos. Os pais têm um ritmo de vida que permite um acompanhamento rigoroso de hábitos e atividades. Silva passa, em média, seis horas por dia em casa. A mulher, Dayane Dalquana da Silva, de 33 anos, é formada em Pedagogia, mas não trabalha e se dedica integralmente à casa e às crianças. A televisão é controlada com desenhos clássicos, programas educativos e eventos esportivos.
As aulas informais incluem Matemática, Astronomia, Geografia, entre outros assuntos. Paralelamente às atividades educacionais caseiras, Silva se dedica há mais de quatro anos a pesquisas cientificas sobre alfabetização no mundo. O professor foi frade por oito anos e leciona há mais de 25. Ele se formou em Pedagogia pela PUC-SP em 1985, tem mestrado e doutorado em Filosofia da Educação, com teses sobre Disciplina.
Maringá Preocupado com a qualidade do ensino público, o professor universitário Luiz Carlos Faria da Silva, 51 anos, vai entrar na Justiça para garantir o direito de os filhos estudarem em casa. Com 25 anos de magistério, Silva avalia ter melhores condições de dar uma formação mais sólida para o casal de filhos L.D.S., de 9 anos, e J.D.S., de 7 anos. "O estado tem o direito de me obrigar a colocar meus filhos na escola, mesmo eu provando que eles terão um desempenho baixo, usando os próprios dados oficiais?", questiona Silva. O sistema de homeschooling é comum em outros países, mas ainda não tem regulamentação no Brasil.
O professor e a esposa também pretendem orientar a formação moral das crianças e evitar que sejam influenciadas por questões sobre sexo, publicidade, violência e drogas. A idéia do pai é utilizar o material didático da instituição e encaminhar as crianças para a escola apenas para as avaliações.
A família mora em Maringá, no Nororeste do Paraná. Há uma semana, J. e L. estão sem freqüentar as aulas na escola estadual onde foram matriculados em julho, depois de saírem de uma escola particular em maio deste ano.
A ação judicial é parte de um processo que começou em março passado, quando o pai encaminhou à Promotoria da Infância e Juventude um pedido de providência contra um suposto caso de "bullying" (violência moral) contra o filho na escola particular que freqüentava. Mesmo não caracterizado o problema, a escola se comprometeu a realizar atividades para pais e alunos com ênfase no respeito e solidariedade. Apesar disso, o pai retirou os filhos da escola, que comunicou ao Conselho Tutelar. O caso foi encaminhado para a promotoria e arquivado com a apresentação do comprovante de matrícula das crianças, desta vez na Escola Estadual Santa Maria Goretti. Mas o processo pode ser reaberto, já que as crianças estão em casa novamente.
Apesar de não concordar com a atitude do pai, as razões dele não surpreendem a vice-diretora da escola estadual Santa Maria Goretti, Rosa Maria Vasques Fernandes. Ela reconhece as falhas da educação pública. "Existe uma distância entre como o conteúdo é passado, cobrado e avaliado", diz. A professora lamentou a saída das crianças e disse que elas, por terem outros valores, até poderiam ajudar sendo referência para os colegas que são desrespeitosos com professores e têm baixo desempenho.
A falta de convivência de J. e L. com outras crianças é uma das principais preocupações da vice-diretora. Ela diz estar disposta a receber os pais para rever a postura da educação doméstica, que privilegia o conteúdo em relação à sociabilização.
Este também é o alerta da terapeuta Maria Izabel de Nóbrega. "Com a educação individualizada, a criança vai ter perdas sociais, diminuição do conceito de competitividade, perda dos inter-relacionamentos com os amigos de sala de aula, do estímulo da convivência em grupo, além do empobrecimento dos questionamentos", considera.
Maria Izabel diz que a criança pode crescer como mais individualista, tímida diante dos enfrentamentos da vida e com dificuldades na comunicação. Há ainda o risco de passividade, de ter um pressuposto de que sempre será assistido. Ela explica que o aprendizado da criança é pessoal e não do pai, pois os aspectos emocionais dos dois são diferentes.
O pai sustenta sua posição contrapondo estatísticas nacionais de índices de aprendizado com pesquisas sobre desempenho escolar internacionais. Um dos índices é o baixo nível de leitura. Silva lembra que os alunos que terminam a 4.ª série apresentam uma leitura inadequada enquanto já deveriam estar lendo bem após quatro anos de estudo.
Baseado em suas pesquisas, Silva não culpa os professores. Ele considera que falta instrumentação adequada e que a responsabilidade é das universidades e de quem elabora as políticas de ensino.
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