O juiz Cleve Machado proibiu o pai, que está desaparecido, de se aproximar dos filhos| Foto: Gilberto Abelha/Jornal de Londrina

Comportamento

Situação surpreende psiquiatra

O caso de Fazenda Rio Grande surpreende até mesmo especialistas em comportamento humano. O psiquiatra Dagoberto Hungria Requião disse que nunca teve notícia de um caso semelhante. "Isso foge totalmente do que a gente pode pensar. Não dá para imaginar que isso seja pedofilia. Deve se tratar de uma personalidade psicopática, com uma dificuldade de controle dos impulsos", afirma. Quanto aos efeitos de uma situação como essa, o psiquiartra diz que podem se prolongar pelo resto da vida das vítimas. "Normalmente são crianças amendrontadas", comenta.

Da Redação

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Por determinação da Justiça de Fazenda Rio Grande, região metropolitana de Curitiba, nove irmãos entre 2 e 15 anos de idade estão vivendo em um abrigo para menores desde setembro. A suspeita é de que o próprio pai os tenha violentado sexualmente – para preservar a identidade das crianças, o nome do suspeito não será divulgado. Outros dois irmãos adolescentes, que também foram transferidos para o abrigo, mas retornaram para casa com aval da Justiça, também podem ter sido abusados.

A adolescente de 17 anos que retornou para casa confirmou ontem à reportagem que foi abusada pelo pai quando era criança. "Aconteceu uma vez, depois não mais", relata a adolescente. A menina ainda disse que os irmãos pequenos reclamavam para ela que o pai os molestava. "Ele também batia nos meus irmãos", aponta a adolescente.

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Mesmo casado oficialmente há 28 anos com a primeira mulher, com quem tem seis filhos, o suspeito vivia com outras duas companheiras no mesmo terreno. Com uma delas tinha outros cinco filhos e com a terceira, mais três. Em 2005, o Ministério Público orientou cada uma das mulheres a viverem com seus filhos em locais separados. Até sair de casa após a última denúncia, o pai das crianças, cujo paradeiro é desconhecido, morava com as três mulheres e os 14 filhos em duas casas no mesmo terreno.

Por determinação do juiz João Luiz Cleve Machado, da Vara Criminal e de Família de Fazenda Rio Grande, o pai está proibido de se aproximar dos filhos. "Também está determinado que se as mães facilitarem a aproximação dele com as crianças, elas podem perder a guarda dos filhos", informa Machado. O juiz explica que não havia como expedir mandado de prisão contra o suspeito porque o Ministério Público não encaminhou denúncia contra o pai das crianças. O promotor de Justiça de Fazenda Rio Grande, Fábio Lourenço, preferiu não dar declaração à reportagem. A primeira audiência do caso ocorre hoje à tarde no fórum de Fazenda Rio Grande.

A suspeita de abusos vem desde 2003, quando vizinhos do suspeito o denunciaram pela primeira vez. Em 2005, houve nova denúncia, dessa vez de duas sobrinhas que moravam com o acusado.

A mais recente é de junho, quando a direção da escola onde estuda uma das filhas do suspeito, de 13 anos, desconfiou do comportamento da menina, que chorava muito. Encaminhada para atendimento psicológico, a menina confessou ter sido abusada sexualmente pelo pai duas vezes. O caso foi encaminhado pela escola ao Ministério Público.

O filho mais velho do acusado, bem como a esposa afirmam desconhecer os supostos abusos sexuais – mesmo com a confirmação por parte de umas das filhas. "Ele batia nas crianças como qualquer pai quando vê o filho fazer algo de errado", relata a mulher.

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A reportagem teve acesso ao laudo psicológico feito pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) da prefeitura de Fazenda Rio Grande, em que as três mulheres confirmaram que as crianças eram agredidas fisicamente, principalmente quando o pai estava alcoolizado. Porém, as três disseram que nunca mais souberam de nenhuma suspeita de abuso sexual por parte do marido, desde a acusação das sobrinhas em 2005.