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Saúde infantil

Pais, alerta. Criança também tem depressão

 | Sossella
(Foto: Sossella)

Irritação, agressividade, rebeldia, hiperatividade. Não parece a descrição de um quadro depressivo, mas na infância a doença tem sintomas atípicos, uma das dificuldades para o diagnóstico.

Outra é a idéia de que criança não tem depressão. "A visão de que a criança não tem desenvolvimento emocional para desenvolver depressão não leva em conta os aspectos biológicos e genéticos envolvidos. É uma doença que pode ser comparada com outra qualquer. Assim como a diabete ataca o pâncreas, a depressão ataca o cérebro", alerta o psiquiatra Gustavo Schier Dória, supervisor do Ambulatório de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital de Clínicas do Paraná.

Atualmente, o entendimento dos médicos é de que até bebês podem ficar depressivos. "Desde que se descarte outro fator orgânico, um bebê muito irritado, que não se contenta com nada e não ganha o peso esperado pode estar com depressão", diz Dória. "É claro que não vamos medicar um bebê, mas ver o que está acontecendo na vida dele e propor mudanças para que ele se sinta melhor", completa.

O preconceito é outro fator que pesa contra a descoberta do Transtorno Depressivo Infantil. É difícil para os pais admitirem a hipótese de seu filho estar com o transtorno e o levarem a um psiquiatra. O caminho para a descoberta da doença pode passar pelo consultório pediátrico. "Os pediatras precisam estar treinados para fazer o diagnóstico. O desconhecimento leva pais e pediatras a acharem que a criança 'é assim mesmo' ou que 'isso vai passar'", afirma o psiquiatra.

Ele alerta que para fazer o diagnóstico, é preciso uma avaliação bastante cuidadosa. "Às vezes, são necessárias duas ou três entrevistas para se ter certeza."

O tratamento é feito basicamente com psicoterapia, mas pode incluir medicamentos. Ele é importante também para diminuir as seqüelas futuras. "Quando a doença não é tratada, os sintomas depressivos vão se incorporando à personalidade. O paciente acha que é daquele jeito. As pessoas ao seu redor comentam seu comportamento, e ele vai se construindo daquela forma."

Como 70% das pessoas que apresentam um episódio depressivo vão ter recaída, a psicoterapia é essencial para fortalecer e dar instrumentos para que ela enfrente futuros episódios estressantes.

Orgânica

Uma das causas da depressão pode vir de um órgão insuspeito: o intestino. "Apenas 10% da serotonina é produzida pelo cérebro. O restante – 90% – vem do intestino delgado", afirma o médico de família Luiz Antônio Batista da Costa, homeopata e fitoterapeuta clínico. Medicamentos como antibióticos e corticóides destróem a flora intestinal, impedindo a produção da substância, que regula o humor e tem ação antidepressiva. "Não sou contra antibióticos, há momentos em que eles são necessários", esclarece Costa. "Mas sempre prescrevo com eles um repositor de flora intestinal." Preventivamente, o médico aconselha – a todos, adultos e crianças – a ingestão de produtos com lactobacilos diariamente.

Sinais de alerta

Os sinais e sintomas abaixo são indicativos de depressão nas crianças e adolescentes. Não é preciso que a criança tenha todos eles para se fazer o diagnóstico.

• Mudanças de humor significativas.

• Diminuição da atividade e do interesse. Atenção quando uma criança perde o interesse por atividade que antes gostava. Apatia.

• Queda no rendimento escolar, perda da atenção a até fobia escolar.

• Distúrbios do sono. Pode ter insônia ou passar a dormir demais.

• Tristeza.

• Agressividade e hiperatividade.

• Auto-depreciação.

• Perda de energia física e mental.

• Queixas somáticas, como dores de cabeça, nas costas, de barriga.

• Perda ou aumento de peso: a criança pode passar a comer muito ou ter anorexia.

• Cansaço matinal.

• Aumento da sensibilidade (irritação ou choro fácil).

• Negativismo e pessimismo.

• Sentimento de rejeição.

• Idéias mórbidas sobre a vida. Medo ou idéias de morte.

• Enurese e encoprese (urina ou defeca na cama).

• Condutas anti-sociais e destrutivas.

• Ansiedade e hipocondria.

Tristeza não é depressão

"Os pais hoje têm dificuldade de aceitar que as crianças fiquem tristes. Eles se sentem responsáveis pela felicidade dos filhos", afirma a psicóloga Maria da Glória Craco Bozza, terapeuta familiar e criadora do método argila – espelho da auto-expressão. Os pais precisam lembrar que o sentimento de tristeza faz parte da vida e o que a criança precisa nessa hora é de acolhimento. "Basta que os pais entendam a situação, acalentem. Quando a criança não é entendida em seu sentimento, vai sair por outros sintomas, como agressividade e raiva."

Vida, louca vida

Estudos mostram que os fatores de risco para a depressão na infância e adolescência aumentam a cada geração desde 1940. Os fatores indicados são a violência urbana, excesso de atividades na agenda diária e falta de espaço para o lazer. Um estudo realizado na Austrália mostra que as crianças que equiparam a felicidade ao dinheiro e a fama à beleza são mais propensas a sofrer de depressão em comparação às que não dão tanto valor à riqueza e à aparência.

Serviço: Gustavo Schier Dória (psiquiatra), fone (41) 3253-0022 / Luiz Antônio Batista da Costa (médico de família), fone (41) 3022-4041 / Maria da Glória Craco Bozza (psicóloga), fone (41) 3019-4589.

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