À primeira vista, o casal chama a atenção pelo ecumenismo mitológico Hália (esposa de Poseidon, o deus grego dos mares) e Osíris (a divindade egípcia associada à vegetação e à vida no além). Nesta história, porém, a bióloga e escritora Hália Pauliv de Souza e o dentista Osíris de Souza, ambos com 69 anos, se destacam pela dedicação a uma causa. Pais adotivos, eles dedicam suas horas vagas para orientar quem quer levar uma criança para dentro de casa dessa maneira. Por meio do trabalho voluntário, tornaram-se responsáveis pelo curso obrigatório que a Vara da Infância e da Juventude exige dos candidatos à adoção.
Tudo começou quando Hália e Osíris tinham 26 anos. Recémcasados e encaminhados na vida profissional, só lhes faltava um filho para a realização plena. Porém, Hália descobriu-se infértil "sem nenhuma razão aparente". Nove anos se passaram até que os dois decidissem adotar uma criança. "Esse é o tipo de decisão que precisa ser tomada com toda a consciência, e pelos dois em conjunto", explica Hália.
Oito meses depois, às vésperas do Natal, chegava Renata então com quatro dias. "Depois que vi o rostinho dela primeira vez, acho que chorei por uns seis meses", descreve o dentista. Hália e Osíris gostaram da idéia de ser pais, e pouco mais de um ano depois adotariam outra menina, Fernanda, com 12 dias de vida.
Desde o primeiro contato, as duas meninas foram imediatamente acolhidas como filhas legítimas. "Elas só não saíram do meu útero, mas as criamos com o mesmo amor, disciplina e limites com que os pais criam seus filhos consangüíneos", frisa Hália. "E fizemos questão de contar a elas desde muito cedo, pois é importantíssimo que pais e filhos vivam na verdade." A estratégia deu certo: Renata, hoje com 34 anos, é psicóloga, e Fernanda, 33, é publicitária e microempresária. Ambas estudaram fora do país, moram com os respectivos maridos, e transbordam de orgulho pelos pais.
O que o casal não esperava era que a experiência deles como pais adotivos acabaria por tornálos referência no assunto. "A Renata tinha acabado de sair da faculdade quando nos convidaram para fazer parte de uma ONG, que viria a ser a Recriar", relata Hália. "Desde 1996, participávamos da reunião mensal de um curso para ajudar a desenvolver a cultura da adoção, e passamos a coordenar esse curso em 2001", acrescenta Osíris. "A Ampij [Associação dos Magistrados e Procuradores da Infância e da Juventude] adotou o nosso curso como pré-requisito para a adoção, e tocamos esse projeto até hoje", conta Hália.
O curso é formado por quatro reuniões, e se repete várias vezes ao ano. Para esses encontros, o casal se encarrega de levar pessoas que adotaram crianças para conversar com quem está na fila.
Essa experiência agora está sendo empregada para ajudar a resolver um problema que a evolução dos processos de adoção trouxe. Apesar de aumentar a aceitação de crianças mais velhas, muitas famílias, despreparadas, acabam desistindo durante a fase de adaptação e devolvendo a criança para a Vara (o que, na prática, significa um segundo abandono). O casal está trabalhando novamente como voluntários junto ao corpo técnico do Judiciário, para preparar melhor esses pais.
Hália e Osíris dão as dicas para quem pretende adotar uma criança. "É preciso doação, vontade de construir uma família, consciência, amor, compreensão, disponibilidade interior...", enumeram. "Porque tem gente que parece que vai comprar uma Barbie, tem que ser loirinha, perfeita, bonitinha. Tem de ficar claro que não se deve procurar uma criança para satisfazer a sua vontade. Os pais esperam ser conquistados pelo filho adotivo, mas é ele que precisa ser conquistado", arremata.
Serviço: Mais informações sobre adoção e o curso para os candidatos a pais adotivos na Vara da Infância e da Juventude fone (41) 3322-8236.
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