Para educadores e psicólogos, a diminuição das barreiras entre o mundo adulto e o mundo infantil provoca uma confusão do papel e do lugar da criança na sociedade. Surgem, assim, crianças "adultizadas" e, anos depois, adultos "infantilizados". "Quando você pula uma etapa da vida, essa etapa volta, em algum outro momento", afirma Rosely Sayão, psicóloga e colunista do jornal Folha de S. Paulo.
O acesso indiscriminado a conteúdo adulto na tevê, internet, nos jogos eletrônicos e o consumo são alguns dos principais responsáveis por esse processo. Se é impossível e até indesejável barrar completamente o acesso à mídia e às novas tecnologias, o ideal é que haja um acompanhamento e controle dos pais, dizem especialistas.
"Se uma criança vê uma cena de novela ou um trecho do jornal, os adultos devem conversar, explicar o contexto, deixar claro o que é certo e errado, o que é do universo dos adultos e o que diz respeito à criança", afirma a educadora Maria Ângela Barbato, professora da PUC-SP.
Mas isso nem sempre acontece. "Os pais têm pouco tempo com os filhos. É mais fácil deixar a criança fazer o que quiser", ressalta Rosely. "A família precisa ter um conjunto de valores muito sólidos e passar isso de forma clara para as crianças", afirma a socióloga e educadora Gisela Wajskop, diretora do instituto de pedagogia Singularidades.
Para ela, negociar o uso dos meios de comunicação e jogos eletrônicos, em vez de simplesmente proibir, tem papel importante na educação, pois estabelece limites e permite que a criança reconheça a autoridade dos pais. "Quando a criança e o adulto têm o mesmo poder de decisão sobre o que será consumido, o tipo de atividade que a família vai fazer, há uma grande confusão de papéis", diz.