Invasões, depredações, roubos, ameaças, brigas, agressões. Nos últimos 30 dias, este foi o triste saldo da educação paranaense. Prova de que a violência, fenômeno que a cada dia intimida mais a sociedade, não está mais limitada às ruas: ela pulou os muros das escolas públicas e ameaça o sistema educacional e o processo de aprendizagem. Só no último mês, quatro escolas do estado tiveram aulas suspensas, por iniciativa da diretoria ou dos pais, que deixaram os filhos em casa por causa da sensação de insegurança.
A violência e o medo que dela decorre vêm tendo um efeito imediato: a presença da polícia nas escolas. Nos últimos dois anos, a Patrulha Escolar Comunitária (PEC), da Polícia Militar, foi chamada em média 17,3 vezes por dia para atender casos de vandalismo, furto, lesão corporal, rixas, brigas, roubos e desacato a autoridades em escolas de Curitiba e região. Para alguns, a presença da polícia é necessária. Para outros, um abuso e uma inversão de valores.
Desespero de causa
A Vila Nossa Senhora da Luz, na Cidade Industrial de Curitiba, é uma das regiões mais problemáticas e violentas da cidade. Os problemas da região, no entanto, não fizeram com que os cerca de 1.350 alunos do Colégio Municipal Albert Schweitzer deixassem de freqüentar as aulas durante algum dia neste ano.
Para o diretor do colégio, Emídio Nicodemos Angelotti, a violência está na comunidade e acaba invadindo a escola, espaço para o qual são transferidos os desentendimentos entre moradores do bairro e as rixas entre jovens que pertencem a gangues rivais. Segundo ele, a escola também acaba se transformando em um lugar de "desabafo" da comunidade, que muitas vezes se sente abandonada pelo poder público, principalmente quando o assunto é segurança.
Angelotti já atuou na extinta Delegacia do Menor e no Educandário São Francisco, em Piraquara, mas se diz contrário à presença da polícia no ambiente escolar. "É um desespero de causa", define. "Os pais às vezes pedem a presença da polícia, mas é porque eles não sabem mais o que fazer com os filhos". Em 14 anos na direção da escola, Angelotti conta nos dedos as vezes em que chamou a viatura. "Polícia é mais para a frente da escola, os arredores. Dentro, as coisas devem ser resolvidas pelos professores, pela direção e pelos pais."
As revistas pessoais em estudantes de escolas públicas só podem ser realizadas quando solicitadas pela associação de pais. No dia 29 de março, cerca de 170 pais do Colégio Municipal Omar Sabbag, no Cajuru, aprovaram a realização da revista pessoal. Passada a operação, pelo menos três deles se dizem arrependidos. "Não participei da reunião, mas aprovei a operação. Fiquei arrependida", disse a dona de casa Leila Almeida, 39 anos, mãe de uma adolescente de 13 anos que diz ter sofrido maus-tratos na Delegacia do Adolescente. "Autorizamos, mas queríamos tudo na forma da lei. Hoje, não assinaria mais", diz outra mãe, a comerciante Mirian Alcântara, 29 anos.
O professor de Educação Física e doutor em Educação Sérgio Luiz Carlos dos Santos, que trabalha com crianças carentes dentro do projeto Gralha Azul, da Universidade Federal do Paraná, é outro que reprova a presença policial. "A repressão policial pode ter valor no estado totalitário, mas no estado democrático isso não cabe. Não tem criança bandida, a sociedade é que a transforma em bandido."
Santos teme que, com as constantes operações policiais, os pais passem a ter medo de mandar os filhos para a aula. "É preciso mudar esse comportamento, antes que a comunidade passe a ver a escola como um local de problemas", comentou. "A repressão não muda paradigmas, só prejudica."
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