Rio Os recursos destinados ao desenvolvimento tecnológico de novas vacinas na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) quintuplicaram nos últimos anos, passando de R$ 3 milhões em 2003 para R$ 15 milhões em 2007. São cerca de 30 projetos na unidade de Biomanguinhos, no qual pesquisadores desenvolvem vacinas nacionais contra dengue, malária, meningite B, meningite C conjugada e pneumococo (Streptococcus pneumoniae). Essa última é a principal causa de morte de crianças com idade inferior a cinco anos no Brasil e também um dos alvos da pesquisa na fundação, porque o país importa a vacina.
O pneumococo causa doenças graves, como septicemia, meningite bacteriana e pneumonia. A única vacina existente hoje contra essa bactéria é fabricada pelo laboratório Wyeth e custa cerca de 50 dólares (ou aproximadamente R$ 100) a dose. São necessárias pelo menos quatro doses para a imunização de longo prazo.
Por causa do alto custo, aliado a uma eficácia considerada baixa o Ministério da Saúde não adota o produto no Programa Nacional de Imunização. Dentro da estratégia de substituir importações estimulando o desenvolvimento tecnológico nacional, pesquisadores da Fiocruz iniciaram no ano passado os primeiros estudos para a criação de uma vacina nacional contra o pneumococo.
A vacina importada protege contra os sete sorotipos do Streptococcus pneumoniae mais comuns no Reino Unido. "Para o que temos de mais comum no Brasil, faltam dois sorotipos importantes", explicou o diretor de Biomanguinhos, Akira Homma. No total, a bactéria apresenta 84 variações ou sorotipos.
Segundo Homma, a pesquisa ainda está no estágio inicial e só deve ficar pronta para ser produzida em larga escala daqui a cerca de cinco anos, numa previsão otimista. A construção de uma nova fábrica, que recebeu R$ 30 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na semana passada, com uma moderna planta de protótipos, irá otimizar a passagem da bancada de pesquisa para a produção escalonada.
"As vacinas demoram normalmente pelo menos dez anos para chegar ao mercado, mas a tecnologia de produção para prevenir a ação do pneumococo é parecida com a da Haemophilus influenza do tipo B (também pode causar pneumonia bacteriana, na forma mais grave e recorrente da doença). E essa tecnologia nós já dominamos", disse Homma. A vacina meningite C conjugada, também disponível na rede privada e que tem a vantagem de imunizar crianças menores de dois anos, tem tecnologia parecida e está em fase final de testes no Centro Técnico de Vacinas, de Biomanguinhos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a pneumonia mata anualmente cerca de 2 milhões de crianças abaixo de cinco anos no mundo, sendo que o pneumococo é responsável por mais de 1 milhão de mortes, a maioria delas em países em desenvolvimento. A vacina conjugada heptavalente contra o pneumococo já faz parte do calendário de vacinação de países como Estados Unidos e Inglaterra. Nesses países tem diminuído sensivelmente os custos hospitalares com internação, além das taxas de mortalidade.
Pesquisadores da Fiocruz esperam que os investimentos no setor continuem crescendo nos próximos anos. Por isso, apostam que a biografia do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, possa ajudar. Pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz há 27 anos, Temporão tem a tese de doutorado na Universidade Estadual do Rio com o tema: "O Complexo Industrial da Saúde: Público e Privado na Produção e Consumo de Vacinas."
Atualmente, o Centro Técnico de Vacinas de Biomanguinhos tem capacidade para produzir 250 milhões de doses anuais. Além de fornecer 46% das vacinas aplicadas pelo Programa Nacional de Imunização, a Fiocruz exporta a de febre amarela carro-chefe da fundação para cerca de 60 países. Produz para o ministério vacinas contra poliomielite, tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), Haemophilus influenza do tipo B e a tetravalente (difteria, coqueluche, tétano e haemophilus), em parceria com o Instituto Butantã, de São Paulo.
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