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Como não sou comentarista político, mas escriba de miudezas, não faço prognósticos na área – mas às vezes sinto coceiras de dar palpites, que é um esporte nacional, do futebol à astrologia. Dois anos depois da eleição da presidenta, e lendo noticiário de través, como todo bom brasileiro, já não acho que sua reeleição será favas contadas, como parecia há pouco, pela popularidade da Dilma e pela indigência da oposição. Aquele jeitão brabo de gerentona caiu no gosto do povo, e também o silêncio discreto e pudico de quem tem mais no estoque que na vitrine (ao contrário de Lula) – mas, olhando em torno, o pessimismo insiste em vir à tona como um cravo.

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Há uma dura sensação de que o país não anda em área nenhuma, ao mesmo tempo em que uma febrícula inflacionária recomeça a latejar com insistência. Há uma carência brutal de infraestrutura no país – cinco minutos nos pátios dos milagres de Guarulhos ou do Galeão bastam para sentir o que é isso – e, se botamos o pé no chão, vê-se que a duplicação Curitiba-São Paulo, um nervo fundamental no sistema viário brasileiro desde que as ferrovias brasileiras viraram ferrugem, só ficará pronta em 2015, como a Gazeta noticiou, depois de meio século de trabalhos, licitações, verbas, placas, comissões, discursos. Faltam 19 quilômetros. Isso mesmo: 19 quilômetros. Enquanto isso, dá-lhe trem-bala, ou trem-fantasma: criou-se até um ministério para ele.

Quanto aos portos, há em toda parte um empenho extraordinário em aprimorar a logística do atraso, ampliando-se pátios de estacionamento para caminhões, já que apressar a carga e descarga dos navios dá muito trabalho. Tudo está sobrecarregado – e toda semana uma jamanta desgoverna-se em descidas de serra, expressão de uma incultura generalizada que é o retrato do país, urbano no corpo e rural na alma.

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A educação patina, e nada indica que vá melhorar, a partir do próprio sistema universitário brasileiro, que se encanta com o aumento notável de formandos e esquece o baixíssimo padrão de resultados. Quanto ao ensino básico, boa parte está nas esquinas, com flanelinhas, guardadores e malabares.

Sobre a violência, ninguém sabe exatamente o que acontece, e pouco se informa; politiza-se uma questão que é de preparo e planejamento, com a ridícula publicidade de Rambos, enquanto o país sequer consegue unificar as polícias Civil e Militar para lhes dar um mínimo de racionalidade. Quanto à oposição, que poderia abrir um bom caminho nesta feira de desastres, o Paraná talvez seja um bom exemplo de sua estratégia: numa desinteligência crassa, o governador descartou o candidato que lhe daria, enfim, alguma projeção nacional para vê-lo brilhar no outro lado – ao qual, entretanto, não pertence.

Nesta terra de ninguém, de ideias e partidos falidos, o velho "novo" pode prosperar, como tantas outras vezes – para voltar ao mesmo de sempre.