Brasília O vôo 3054, que ia de Porto Alegre a São Paulo, foi tranqüilo até o pouso. Os instantes de tensão entre a tripulação duraram apenas 25 segundos, tempo do trajeto entre o toque da aeronave na pista de Congonhas ao choque com o prédio da TAM Express. O primeiro sinal de desespero é um grito de "aiiii" do comandante Henrique Stephanini Di Sacco, ao perceber que os freios não funcionavam. Por fim, gritos femininos e o barulho de uma explosão encerram a gravação.
A transcrição do áudio dos últimos 12 minutos do vôo foi lida pela primeira vez em público pelos deputados Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e Luciana Genro (PSol- RS), ontem pela manhã. O material, produzido nos Estados Unidos, estava em inglês e os dois parlamentares foram responsáveis pela tradução. O trabalho de 10 minutos contou com uma platéia silenciosa algo raro para uma sessão de CPI na Câmara.
Instantes após a leitura do documento de oito páginas, o silêncio continuou. Luciana e Rocha Loures se abraçaram e ficaram emocionados. "Foi algo horroroso. Fui lendo e nem me dei conta de como a história ia caminhando, até que no fim começou aquela sensação de pânico", disse o peemedebista.
Antes da leitura, muitos deputados discutiam sobre a necessidade de divulgação das informações. A maioria absoluta dos membros da comissão decidiu que os diálogos deveriam ser divulgados por mais pesados que fossem. "Tragédia maior do que ter os seus parentes mortos em um acidente, carbonizados, algumas linhas de jornal não podem ser", argumentou Luciana.
Um dia antes, o paranaense André Vargas (PT) declarou que não gostaria nem de participar da avaliação do material. "Foi um sofrimento terrível, disso ninguém tem dúvida", contou o petista. Agora, após lerem as transcrições, os deputados terão de ouvi-las. O chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos, Jorge Kersul Filho, prometeu que o software que permite a execução do programa enviado à CPI deve ser entregue aos parlamentares até sexta-feira. Ontem, ele admitiu que a Aeronáutica mandou o material sabendo que a CPI não conseguiria escutá-lo. Só isso já seria suficiente para provar que os deputados não vazaram informação, segundo o militar. "É impossível que qualquer dado tenha vazado dessa Casa, até porque na prática seria impossível ouvir a conversa dos pilotos. Coloco o meu nome em jogo", afirmou. Segundo Rocha Loures, a comissão não pode abrir mão de escutar as informações porque a interpretação delas está incompleta.
"A letra fria não representa o valor da voz, da sua intensidade. O áudio vai mostrar o tom, o nervosismo, o nível de surpresa dos pilotos", explicou. Sobre a necessidade de divulgação dos diálogos, o paranaense disse que ao menos o trabalho serviu para tranqüilizar algumas famílias principalmente a dos dois comandantes.
"As famílias já sabem quais foram as últimas palavras deles, o que por si só já é um conforto muito grande. Não fica mais na adivinhação, no sonho de que um marciano poderia ter entrado na cabine ou de que o piloto possa ter sido vítima de um ataque terrorista. Acabou, só vale o que está gravado."