O transporte coletivo de Curitiba, que já foi modelo, anda na corda bamba. E, se não cai nem para o poder público nem para as empresas operadoras, é do lado do passageiro que ele tomba. Mais uma vez é o usuário que se vê refém e, nesta terça-feira (dia 1.º), enfrenta uma greve parcial dos ônibus. O gatilho da paralisação foi o atraso do pagamento salarial de motoristas e cobradores – por sua vez ocasionado pelo repasse de um valor inferior ao real custo do transporte na capital, segundo as empresas. Como agravante, ainda há a proximidade da eleição municipal de 2016, que já tem o atual prefeito como pré-candidato.
Confira uma lista das prováveis linhas afetadas pela greve de ônibus em Curitiba
O estopim da vez é o atraso no pagamento do 13.º dos trabalhadores – repasses emergenciais da prefeitura de R$ 2,5 milhões tentam tapar o buraco; até o momento sem sucesso. A ameaça das empresas de demitir 2 mil funcionários esquentou mais o debate. O presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior, chegou a afirmar que isso era um instrumento de pressão para aumentar a tarifa técnica – o valor repassado pela prefeitura para pagar as empresas. A reação dos empresários manteve o tom inflamado, apontando um colapso no sistema e a fragilidade financeira do município.
Falta de transparência
Na queda de braço entre empresas e poder público, a falta de transparência prejudica qualquer tentativa de controle de custos. As empresas alegam que a conta não fecha, mas nunca abriram sua contabilidade. Ao acenar com o possível corte de 2 mil funcionários, não disseram de que empresas seriam demitidos. Enquanto a Urbs apresenta as suas planilhas – técnicas e consideradas inacessíveis para grande parte da população – o governo do estado, por meio da Comec, sequer fala sobre custos.
Apesar desses elementos, o grande impasse da rede gira em torno da tarifa técnica. Para as empresas, os atuais R$ 3,21 pagos por passageiro são insuficientes para arcar com todas as despesas do sistema –R$ 3,40, dizem, seriam razoáveis e chegaram a ser consideradas durante as discussões para a definição desse valor. Foram descartados pelo desacordo em relação à renovação da frota. Não são só os R$ 0,19 a mais. Considerando a média de passageiros pagantes mensais (18,8 milhões), o valor representaria R$ 3,5 milhões ao mês, ou R$ 42 milhões ao ano.
O valor equivale a um mês extra de arrecadação, mas o custo para bancá-lo é alto. Aumentar a tarifa técnica implica onerar o cidadão, seja com aumento no preço da passagem, de tributos ou remanejamento do orçamento de outras áreas. A menos de um ano das eleições, é de se apostar que Gustavo Fruet (PDT) tentará resolver a pendência sem arranhar ainda mais sua já baqueada aprovação.
A cada dois meses, uma parada
Entre janeiro de 2014 e outubro deste ano, houve uma greve, paralisação ou atraso no início da operação a cada dois meses. Em comum, todas as ações foram motivadas por algum impasse entre empresas e motoristas e cobradores. Em apenas uma ocasião, durante a Copa do Mundo e em dia de jogo em Curitiba, é que os usuários foram menos prejudicados. Os ônibus circularam com catracas abertas. Ainda assim, esse dia de greve branca saiu do bolso do consumidor.
O desafio é alto, porque três relatórios – da própria Urbs, CPI do Transporte da Câmara e uma auditoria do Tribunal de Contas do Paraná (TC) – apontam que há gordura para cortar na planilha de custos do transporte. Ainda em 2015, para cumprir decisão do TC, Fruet vai precisar eliminar itens da tarifa técnica, como o fundo assistencial (destinado aos trabalhadores), a taxa de administração da Urbs e as gratuidades do sistema que são totalmente bancadas pelo usuário pagante.
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