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Meio ambiente

Papeleiros se despedem aos poucos da informalidade

Aquele cidadão que passa todos os dias com um carrinho de madeira abarrotado de papel, garrafas plásticas, latas e outros materiais recicláveis está prestes a ganhar uma nova posição na sociedade. Se já foram vistos por muitos como "inimigos" da limpeza pública – que se antecipavam ao caminhão de coleta para espalhar lixo nas ruas –, atualmente o "trabalho de formiguinha" dos catadores de papel vem ganhando reconhecimento. De moradores e do poder público, que desenvolve projetos para capacitar os carrinheiros e transformá-los em agentes ambientais.

A consciência de que capacitação, padronização e responsabilidade em relação ao meio ambiente são necessárias no dia-a-dia das ruas parte dos próprios catadores. A idéia já entrou na cabeça das "formiguinhas" da associação Novo Amanhecer, que reúne cerca de 40 carrinheiros na Regional CIC, uma das mais populosas de Curitiba. Entre os objetivos, segundo a presidente da Associação, Maria de Lourdes Souza Andrade, 47 anos, estão fornecer uniforme para os catadores, cadastrá-los e orientá-los para que não espalhem lixo durante a procura por materiais recicláveis.

Grande parte dessas idéias surgiu a partir das dificuldades enfrentadas nas ruas. A principal, segundo os catadores, ainda é o preconceito. "Uma vez, vi um saco de lixo só com materiais recicláveis. Quando fui pegar, a dona da casa falou que não dava para carrinheiro", conta Maria de Lourdes. "Ela disse que carrinheiro é porco, que só faz sujeira. Tem muita gente assim, que não dá nem água quando a gente pede", diz a catadora, que sai para as ruas às segundas, terças e sábados, às 6h30.

A partir de constatações como essa, Maria de Lourdes teve a idéia de fornecer uniformes para os catadores. A idéia ainda não saiu do papel, por falta de recursos, mas o projeto está todo delineado na cabeça da presidente. "O uniforme vai identificar o profissional do material reciclável e terá o nome e o número de telefone da associação. Se o catador rasgar ou deixar aberto o saco de lixo, o morador poderá ligar e reclamar", afirma. Maria de Lourdes também pretende exigir comprovante de endereço dos catadores (para evitar que alguns deles vendam o carrinho, que pode valer até R$ 400) e criar um grande refeitório na sede da associação, um barracão cedido pelo governo do estado.

Idéias como essas encontram respaldo na prefeitura de Curitiba. Até 2010, a prefeitura quer instalar 25 parques de receptação de material reciclável na cidade. Os primeiros, previstos para virarem realidade ainda neste ano, serão instalados em cinco bairros: Santa Felicidade, Boa Vista, Vila das Torres, Cajuru e Parolin. Os parques terão áreas de triagem e pesagem, oficina e sanitários, além de espaço para treinamento e cursos de capacitação.

Um dos objetivos do projeto Reciclagem e Inclusão Total, segundo a coordenadora de Resíduos Sólidos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Marilza de Oliveira Dias, é oferecer um espaço para os catadores armazenarem o material coletado, já que muitos acabam levando para casa. "Muitos vivem em áreas de fundo de vale, o que pode gerar problemas sanitários e ambientais", comenta. Para participar do programa, os catadores deverão pertencer a alguma associação. "Nosso objetivo é melhorar a forma de atuação dos catadores, gerando mais renda e fazendo com que eles trabalhem de maneira mais adequada."

Em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, os catadores vêm desenvolvendo um projeto semelhante. A Associação dos Trabalhadores com Material Reciclável de São José dos Pinhais (Reciclar) recebe apoio da prefeitura da cidade. O próximo passo é conseguir um local para instalar uma usina. Depois disso, os agentes serão cadastrados e caracterizados. "Eles não podem parecer andarilhos. O pessoal fica com medo", diz o tesoureiro da associação, Darcy Virgílio Pereira. "Se estiverem uniformizados, a população vai ver que é algo sério e já vai deixar o material separado."

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