Violência é o que mais depõe contra os atos
A pesquisa também quis saber a percepção dos entrevistados sobre a violência nos protestos e a atuação dos black blocs, movimento que usa a tática do confronto urbano e que ganhou evidência no país nos protestos de junho. A grande maioria (76%) disse desconhecer o grupo. Entre os 24% que conheciam, 19% afirmaram não apoiar a forma de atuação dos "mascarados" contra os 3% que são favoráveis.
De fato, a violência dos black blocs, bem como a dos policiais, é apontada por 13% dos 18% que desaprovam o protesto como a principal razão para discordarem das jornadas de junho. "A violência dos manifestantes acabou com os protestos no Brasil e jogou a favor dos governantes", diz Murilo Hidalgo, da Paraná Pesquisas. O cientista político Fabricio Tomio completa: "A maior parte das pessoas adere ao sentimento de indignação, mas não deseja algo que impacte de forma negativa nas suas vidas, como a violência e a destruição de estruturas públicas ou privadas".
Dúvida
Novas manifestações na Copa dividem opiniões
Embora a aprovação dos protestos seja a regra na pesquisa, na maioria das avaliações sobre o episódio, as opiniões se dividem quanto a repetir o feito durante a Copa do Mundo de 2014 47% apoiaria um novo protesto no Mundial, mas a mesma porcentagem desaprovaria. Para Murilo Hidalgo, do Instituto Paraná Pesquisas, o que divide a população é a mesma razão: "Os que não querem protestos na Copa temem que o Brasil passe uma vergonha internacional. Os que querem os protestos, desejam esse constrangimento internacional para fazer os políticos cederem rapidamente." O fato de boa parte da população ser favorável, entretanto, sugere que os protestos voltem durante o Mundial, segundo ele.
Por fim, o tom de futuras manifestações é que vai determinar sua eficácia e sua permanência. "Se tivermos protestos pacíficos por parte da população, as pessoas ficarão nas ruas o ano inteiro se for preciso. Se houver violência, no dia seguinte todos estarão contra as manifestações de novo", acredita.
Seis meses depois dos protestos que mexeram com a percepção política do país, os brasileiros ainda aprovam as manifestações que, segundo eles, trouxeram mudanças visíveis para o Brasil. Levantamento feito em 158 municípios brasileiros pelo Instituto Paraná Pesquisas, entre os dias 3 e 7 de dezembro, revela que as jornadas de junho como ficaram conhecidos os protestos que tomaram contas das ruas do país mudaram algo para 45% dos entrevistados. A aprovação é grande, embora nem todos tenham tomado parte no processo.
Dos 2.250 brasileiros maiores de 16 anos que responderam à pesquisa, apenas 15,5% participaram dos atos, mas 79% aprovam as movimentações populares. "A maior parte das pessoas foi simpática, mesmo sem participar. Mesmo que houvesse pautas específicas, mais ou menos extremadas, a pauta geral era: queremos um mundo melhor. Isso contribuiu para a boa impressão dos protestos", analisa o cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fabricio Tomio.
INFOGRÁFICO: Veja a pesquisa completa
A redução ou o congelamento da tarifa do transporte urbano é vista, na opinião dos analistas, como uma das principais razões para a percepção de mudança no país graças às jornadas. "Não é descabida a percepção de que teve uma mudança. Para as pessoas, houve uma relação de causa e efeito entre o protesto e a redução da tarifa. E o resto das demandas não são avaliáveis a curto prazo, mas o preço da passagem é uma alteração imediata na vida delas", diz Tomio.
Corrupção
A principal motivação enxergada pelos entrevistados para a insatisfação popular é a corrupção do país, apontada por 33%. Já o motivo original dos protestos, o transporte coletivo, ficou em segundo lugar, com perto de 23%, seguido pela Copa do Mundo (20%) e pela situação econômica do país (16%). Entretanto, na avaliação do diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, a questão dos transportes foi o que houve de mais concreto nas reivindicações. "Foi uma insatisfação geral, mas enquanto não baixou a tarifa, ninguém sossegou. O ganho nessa área foi muito claro".
Atos minguaram por falta de foco, diz manifestante
A empresária Lívia Farah diz acreditar que a falta de foco, combinada com o recrudescimento da violência, minguou as manifestações embora a violência policial tenha sido também um motivador para a indignação popular, atesta. Ela participou dos primeiros atos na capital contra a tarifa do transporte público. Lívia diz que apoia as manifestações e afirma que elas trouxeram mudanças, mas muito poucas dada a magnitude das passeatas. "Se a gente não tem um foco, o protesto vira uma aglomeração de pessoas cantando o Hino Nacional na rua. É preciso saber o que pedir."
Para Lívia, o maior ganho das jornadas foi a percepção da importância da coletividade pela maior parte das pessoas. "Foi um despertar da população que nunca havia se envolvido com nada. As pessoas viram que são realmente necessárias."
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