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Inovação

Para crescer, Brasil precisa de mais cientistas e no lugar certo

Felipe Dias se prepara para ir à Alemanha, onde fará mestrado com despesas pagas | Antônio More/Gazeta do Povo
Felipe Dias se prepara para ir à Alemanha, onde fará mestrado com despesas pagas (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

Não adianta negar, a ciência é pop. Dos seriados humorísticos da tevê ao culto a personalidades da vanguarda tecnológica, essa área do conhecimento vive um momento de valorização inédito para tempos de paz. Mas comparado a países desenvolvidos, a quantidade de cientistas no Brasil é microscópica. O país contabiliza um pesquisador em tempo integral para cada mil pessoas ocupadas, enquanto nos Estados Unidos são 9,5 e na Coreia do Sul, 11. No momento em que o país tenta alcançar um novo estágio industrial tendo a inovação como mantra, a carência de mentes dedicadas à investigação científica puxa o freio da capacidade de desenvolvimento. E a multiplicidade é a receita básica para o surgimento de expoentes. Sem o trabalho de diversos pesquisadores somando conhecimento, dificilmente surgirá no Brasil um Steve Jobs ou uma Samsung.

Antes mesmo de formar e sedimentar a aplicação do talento desses profissionais, o país precisa remodelar o mercado de trabalho para a ciência. Hoje, 68% dos mestres e doutores trabalham para instituições de ensino superior. Por isso, estão talhados para a pesquisa pura de viés acadêmico. Um vetor importante, mas desproporcional se comparado aos mercados de alta competição inovadora. Nos dois países desenvolvidos da comparação anterior, a iniciativa privada absorve 76% e 80% dos cientistas, respectivamente. "O governo tem várias linhas de financiamento para colocar os doutores nas empresas. Pagando parte do salário ou uma bolsa de pesquisa. Mas a maior parte do setor ainda desconhece os programas", lamenta Fábio Kurt Schneider, pró-reitor adjunto de pesquisa e pós-graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Embora o número de pós-graduandos venha crescendo ano a ano no país, a titulação ainda é pouco procurada. Principalmente na área de ciências exatas, onde são mais necessárias. Com o aquecimento do mercado para as engenharias e afins, o estudante é atraído por bons salários antes mesmo da graduação, ficando menos disposto a adiar o conforto financeiro para poder se aprofundar em sua área de estudo. "Se o recém-formado for trabalhar para alguém, dificilmente haverá valorização do título. Outros critérios acabam se impondo", ressalta Schneider.

É uma perspectiva que tende a mudar à medida que um novo cenário de negócios, que começou a despontar agora, passe a ser o pensamento predominante. "A indústria, nos anos 2000, tem se deparado com o desafio da inovação. A qualidade não é mais motivo suficiente para o cliente consumir o produto. As grandes empresas já se deram conta disso. Faltam as pequenas e médias", defende Felipe Couto, gerente de capital inovador do Centro Internacional de Inovação da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (PR).

Metodologia de ensino sufoca curiosidade natural da criança

Existe algo profundamente científico no comportamento da criança em idade pré-escolar. Todo pai já observou isso: quando começa a olhar o mundo à sua volta, a criança se pergunta por que as coisas são como são, e por que determinados eventos ocorrem daquela forma e não de outra. São os mesmos procedimentos de investigação usados por pesquisadores para elaborar as hipóteses que serão testadas em laboratório.

Não muito tempo após entrar na escola, a curiosidade natural da criança costuma desaparecer, dando lugar ao tédio. Quando apresentados à ciência como disciplina, o estudo dos fenômenos naturais ganha a rótulo de algo tão indecifrável quanto monótono.

Educadores são unânimes em diagnosticar as falhas da metodologia do ensino de ciência. O formato convencional de aula, em que o professor fala e os alunos ouvem e anotam, sufoca o questionamento e a experimentação. "Nas ciências, o aluno precisa ser um gerador de conhecimento para si mesmo. Para isso, a aula precisa ser um espaço de experimentação e questionamento", aponta Mario Domingos, curador científico do Instituto Sangari, braço social da empresa que desenvolve materiais didáticos para ensino de ciências. "No ciclo básico, o Ministério da Educação prioriza a alfabetização, o que é correto. Mas a disciplina de ciências fica de lado, até porque dificilmente é a área de formação do professor."

O resultado do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa) mostra o resultado dessa lógica. Existem seis níveis de capacidade científica na avaliação. No nível 1, os estudantes conseguem apresentar apenas explicações óbvias; no 6, raciocinam de uma forma avançada. Mais de 80% das crianças brasileiras estão entre os níveis 1 e 2; 4% se posicionam acima do nível 4 e virtualmente 0% chega ao nível máximo.

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