Finanças
Vender peixe dá dinheiro; o problema é no inverno
Vice-prefeito por duas gestões e secretário municipal do Meio Ambiente da cidade por quatro anos, Lico garante preferir a pescaria à política. Ele aponta o saneamento como o principal problema do município de Pontal do Paraná, que tem 30 mil habitantes. "Peguei a secretaria com 5 mil processos e zerei todos, mas é muita dor de cabeça."
A rotina de pescador começa cedo, mas tem suas vantagens, afirma Lico. "Como vice-prefeito, ganhava R$ 120 por dia. Agora, chego a ganhar de R$ 700 a R$ 1 mil por dia e, à tarde, ainda posso dormir um pouco, descansar, jogar bola à noite." Se a previsão do tempo permite, a pescaria segue de segunda a segunda. Quando os turistas não estão na cidade, o pescado é repassado a outros mercados, a preço menor, mas ainda vantajoso. "Só fica ruim mesmo nos três meses de inverno, lá por agosto, porque a água fica muito gelada. Você não imagina como é frio em alto-mar", acrescenta Rubens da Veiga.
E já foi melhor. "Quando eu tinha uns 12 anos, havia milhões de peixes na beiradinha. Hoje é preciso ir muitas milhas para fora", lembra Rubens, presidente do sindicato dos pescadores de Pontal do Paraná, com mais de 460 associados. O ofício exige um investimento inicial alto. Um barco custa cerca de R$ 15 mil. As redes? R$ 2 o metro.
São quatro horas da madrugada de uma quarta-feira de alta temporada no litoral do Paraná. No pequeno bar da esquina, no balneário de Shangri-lá, a noite ainda não terminou. O sol está longe de aparecer, mas os pescadores, na praia, já o caçam, enquanto arrumam as tralhas para zarpar. "Vai ser um dia bonito", prevê Rubens Marcelino da Veiga, 62 anos, enquanto ajuda o filho a encher o tanque da embarcação com óleo diesel.
O primeiro barco, em busca de camarão, já saiu, mesmo sem qualquer iluminação de apoio. "Eles fazem um caminho reto, se baseando nos navios. Precisa ir cedo, porque demora a chegar. São mais de 15 milhas", calcula. Aos poucos, os 22 barquinhos das famílias de Shangri-lá começam a deixar a praia, brindados por um espetáculo de cores, que mudam a cada minuto. "Quando o dia aponta, não para mais."
Já foi o tempo em que a observação das nuvens determinava se o mar estava para peixe. O olhar aguçado ainda acompanha quem exerce o ofício há mais de 50 anos, mas a tecnologia facilitou a rotina dos que tiram o sustento do mar. "A gente olha a previsão do tempo para Santa Catarina na internet. Se tiver frente fria lá, não tem como sair. Somos o ponto mais alto dentro do barco, é perigoso atrair raios", ensina o experiente Izair Marcelino da Veiga, o Lico, que, aos 61 anos, já enfrentou algumas tempestades em alto mar, mas virou o barco apenas uma vez.
Lico e Rubens são membros de uma família de 10 filhos cinco homens, todos pescadores. Com 70 e poucos anos, o mais velho continua na ativa, seguindo os passos do pai, que pescou por mais de sete décadas. "Temos uma aposentadoria especial, mas no dia que não venho pescar, sonho com isso aqui", garante Lico. Tradicional em Shangri-lá a família Veiga é, de certa forma, responsável pelos demais colegas. "Sabemos onde cada um está. Se não aparecer até uma hora da tarde, vamos atrás, porque aconteceu alguma coisa."
Mesmo com a ajuda de GPS e celulares, que fazem ligações até 15 milhas da costa, o sentido ainda é um dos aliados mais fortes dos pescadores. Dentro do mar, Lico é capaz de acertar a hora com precisão, só olhando a cor céu. "Agora são umas 7h15. Às 8h30 estaremos na praia", diz, ao que o filho Márcio da Veiga, 37 anos, confirma, mostrando o relógio. Pouco mais de duas horas e meia depois de partir, Lico é o primeiro a voltar à praia, trazendo 50 quilos de pescado, que comercializa a R$ 15 o quilo no mercado de peixe de Shangri-lá. "Até meio-dia, vende tudo."
A vida de Lico, o caçador de tubarões
Lico chega à praia por volta das 5h30, quando muitos barcos já deixaram a areia. Começa a arrumar as caixas, onde trará os peixes, e brinca com os repórteres da Gazeta do Povo, a quem prometeu no dia anterior levar para conhecer o mar dos pescadores: "Estão aqui há muito tempo? É bom para ficarem espertos!"
Acordado desde as 4, Lico conta ter feito um café antes de despertar o filho Márcio, único dos quatro a acompanhá-lo nas pescarias. Junto, chega Marcos Alves, 17 anos, o Biguá.
Às 5h55, o Da Veiga está pronto para partir em busca dos peixes que caíram nos quatro mil metros de rede, deixados a seis milhas da costa, na manhã anterior. Cada pescador tem seu espaço delimitado e não pode invadir o dos outros. "Já deu problema."
A maré baixa dificulta a entrada do barco na água. É preciso força física para o ofício. Lico desliga o motor, perto da primeira de cinco bandeiras que marcam sua rede. O balanço das ondas é pouco suportável aos não iniciados. "Passava tão mal que deitava no chão do barco, não queria mais. Hoje, isso aqui é minha vida."
Lico leva uma hora e meia para arrancar das redes o que é aproveitável e devolver ao mar os peixes que já estragaram ou não são atrativos. Enquanto os três trabalham, Lico conta suas histórias de pescador. "Já fui caçador de tubarão, peguei um gigante quando o Márcio era pequeno. Agora não tem mais, pesquei todos em mais de 20 anos."
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