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A aprovação no vestibular de Medicina de uma faculdade particular de Curitiba foi um alívio apenas momentâneo para o estudante Raul Mendes Martins, de 23 anos. "Fiquei feliz por passar, mas nem me matriculei", diz ele. Entre ver a família se desdobrar para tentar pagar uma mensalidade de R$ 1,7 mil ou enfrentar mais um ano de cursinho, ele optou por voltar para as revisões do conteúdo do ensino médio. "Vou me dar uma nova chance de passar na Federal [Universidade Federal do Paraná], até porque é a mais conceituada", explica o estudante.

Alana Sdroievski, de 18 anos, poderia ser, dentro de quatro anos, uma jornalista formada por uma universidade paga de Curitiba, mas não quis. Vai fazer cursinho pelo terceiro ano seguido. "Só tentei vestibular na particular porque minha mãe insistiu. Mesmo meus pais falando que dariam um jeito de pagar a mensalidade, não adianta, eu quero estudar na UFPR", conta.

Trocar a vaga certa na faculdade paga pela duvidosa disputa de mais um vestibular no ensino público é um dilema para muitos estudantes que fizeram o concurso na particular sem ter certeza de que queriam ou teriam condições de se manter no curso. Pesa na decisão, principalmente, o gasto com a faculdade, o desejo de estudar na instituição mais disputada e o desempenho no vestibular anterior. Mas até quando, afinal, insistir na Federal é um bom negócio?

Para o economista Mauro Halfeld, professor da UFPR, a resposta depende de uma análise pessoal do estudante. "Apesar de estar sucateada, a universidade pública é a que tem os melhores alunos e professores mais qualificados. É a opção por um convívio mais produtivo", afirma. Apostar na UFPR é válido, na opinião do economista, para os estudantes que julgam realmente ter condições de passar num próximo vestibular, porque tiraram boas notas no concurso anterior ou por considerarem que não se dedicaram o suficiente para se sair bem na última prova.

A diretora do Núcleo Acadêmico da UFPR, Rosana Albuquerque, no entanto, alerta que o desempenho no vestibular de um ano não é garantia para o próximo. "Não é só a situação do aluno que pode mudar, a do concorrente também. O aluno pode se esforçar mais, mas a concorrência pode ficar mais forte. Não dá para pensar que da próxima vez a vaga está garantida", diz ela.

Apesar de o ensino de qualidade e sem mensalidade ser, aparentemente, a situação ideal, quem está ligado ao mercado de trabalho diz que não há motivos para ver a faculdade particular com maus olhos. "Hoje o que conta é o perfil do profissional e não unicamente a universidade que ele cursou. O mercado também reconhece instituições particulares que atuam há mais tempo e têm qualidade comprovada", informa a consultora de recursos humanos Ariane Wöehl. Se o motivo da insistência na Federal é apenas financeiro, diz Halfeld, o estudante deve considerar a possibilidade de utilizar bolsas de estudo ou financiamento estudantil para pagar um curso qualificado em uma universidade paga. "Os juros não são altos e a tendência, após a formatura, é de que a pessoa tenha mais dinheiro para custear as mensalidades. A pior das hipóteses é escolher uma faculdade particular ruim, por causa do valor da mensalidade", propõe.

Insistir em seguir a carreira do sonho é mais importante do que ficar repetindo vestibulares para estudar em determinada instituição, avalia a psicóloga Eloá Andreassa, especializada em preparação de vestibulandos. "Em alguns cursos, inclusive, a estrutura da faculdade particular permite a formação de profissionais mais completos. O que acaba sendo um erro é, por uma questão financeira, o estudante escolher um curso mais barato na particular, que não é aquele que ele gostaria de seguir", diz Eloá. Segundo a psicóloga, é muito comum o jovem se ver obrigado a concluir uma faculdade que não queria fazer porque a família está pagando.

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