O confronto ocorrido anteontem, na BR-277, em Cascavel, entre sem-terra e ruralistas, é um sinal de que a questão agrária está no limite no Paraná. A opinião é de Tarcísio Barbosa, diretor da Comissão Técnica para Assuntos Fundiários da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). Barbosa considera que a conjuntura atual é a principal causa de revolta e insegurança entre os fazendeiros paranaenses.
O tumulto é visto como um sinal do que pode vir a acontecer no próximo ano, uma vez que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) promete aumentar a pressão contra o governo federal para a implementação da reforma agrária no país. A estratégia foi anunciada nesta semana pelo líder nacional do MST, João Pedro Stédile, que esteve segunda-feira em Cascavel, participando da 1.ª Jornada de Educação na Reforma Agrária.
De acordo com o MST, são cerca de 8,5 mil famílias acampadas no Paraná, sendo que, desse total, 2,5 mil moram em acampamentos no na Região Oeste. Já o levantamento da Faep indica 85 fazendas ocupadas, todas com ordem de reintegração de posse expedida pela Justiça.
"Toda essa situação é decorrente da falta de firmeza do estado em cumprir as reintegrações de posse", afirmou o diretor da Faep. "E o quadro piorou depois que o governo tomou a decisão em favor dos sem-terra em não cumprir a ordem de reintegração de posse e determinou a desapropriação da Syngenta."
Ele disse que os fazendeiros também irão se mobilizar cada vez mais para cobrar o direito de propriedade e o cumprimento das ordens judiciais. Barbosa, no entanto, condenou qualquer iniciativa por parte dos ruralistas que pretenda recuperar a posse por conta própria. "A nossa orientação é agir dentro da lei e da ordem. Não aprovamos a formação de grupos de produtores para agir contra a lei."
O superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Paraná, Celso Lisboa Lacerda, considerou o confronto de anteontem um retrocesso para a reforma agrária: "É lamentável porque não deveria estar acontecendo esse nível de disputa ideológica."
Feridos
Pelos menos quatro sem-terra fizeram exames de lesões corporais no Instituto Médico Legal (IML) em Cascavel. Tanto a Sociedade Rural do Oeste quanto o MST registraram queixa na Polícia Civil para apurar as agressões. O confronto resultou em pelo menos nove pessoas feridas seis sem-terra e três fazendeiros , todas sem gravidade.
