Apesar do salto nos casos da nova gripe, nome popular da influenza A(H1N1), nos últimos dias, o pesquisador Isaías Raw, presidente da Fundação Butantan, considera pequeno o número de ocorrências confirmadas no Brasil - 334 no último balanço, divulgado nesta terça-feira (23) pelo Ministério da Saúde. Por essa razão, medidas emergenciais como as tomadas por algumas escolas, que estão antecipando férias para evitar a disseminação entre alunos não têm justificativa, acredita. "São mais atitudes de autodefesa". Ele ressaltou que, neste momento, a medida mais importante é tentar bloquear a transmissão do vírus, como já está sendo realizado pelas autoridades sanitárias
Raw avalia que uma segunda onda da gripe A (H1N1) deverá ocorrer no inverno de 2010, com elevação no número de casos da doença. "A evolução de outros surtos, como em 1918 e na década de 1950, mostra que a gripe ocorre em duas fases, a segunda geralmente mais extensa", afirmou. Essa probabilidade, contudo, não deve assustar a população, já que, por enquanto, a gripe provocada pelo vírus A(H1N1) é menos agressiva que a influenza aviária e a própria gripe comum. Segundo Raw, morreram 750 pessoas no Brasil no ano passado em decorrência da gripe sazonal, que nesses casos evoluiu para pneumonia. Já o A (H1N1) não fez nenhuma vítima fatal no País até agora. Mesmo em escala mundial, a taxa de mortalidade é de 0,44%, com 232 óbitos de 53.317 casos confirmados, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS)
O Instituto Butantan tem capacidade para fabricar a vacina contra o vírus A(H1N1) em 2010, afirma Raw, mas isso vai depender da necessidade do País, o que não é o caso neste momento. "Poderíamos fazer vacina para gripe suína em janeiro? Talvez um lote-piloto de, no máximo, 40 mil doses", avaliou, afirmando ser desnecessária a fabricação de vacinas para toda a população. Segundo ele, a fabricação depende de a fábrica não estar sendo utilizada para a produção da vacina da gripe comum e também da avaliação das autoridades sobre qual é a mais necessária no momento. "Nada deve ser feito com relação à vacina da gripe suína até o ano que vem, temos essa folga", afirmou.
Receita de vacina
Vinculado à Secretaria de Saúde de São Paulo, o Butantan deverá receber em duas semanas a "receita" da vacina da OMS. Depois, ainda serão necessárias outras etapas, como a definição dos reagentes para dosar as respostas ao vírus, o que deverá ocorrer em dois ou três meses. O fato de o Instituto Adolfo Lutz ter conseguido isolar o vírus A(H1N1) há pouco mais de uma semana deve tornar mais ágeis testes com a doença. Raw lembrou que o Butantan tem as vantagens de ter a única fábrica de vacinas da América Latina, os meios de cultura em ovos fertilizados, e o chamado adjuvante, produto que permite quadruplicar uma dose de vacina. Vários países têm solicitado informações sobre fornecimento de vacinas ao Butantan, como a Coreia do Sul, Hungria, Angola, Paquistão, entre outros; nenhum da América Latina.