O julgamento do mensalão foi histórico para o Supremo Tribunal Federal e para o país. É essa conclusão do jurista Ives Gandra Martins. Para ele, ao aceitar a denúncia contra os acusados de envolvimento com o mensalão, o Supremo pela primeira vez em sua história votou com dez relatores. Todos os ministros do STF, conforme avaliação de Gandra, estudaram o processo e decidiram com convicção. "Foi um momento de decisão histórica porque, pela primeira vez, o Supremo decidiu com dez relatores. Todos eles estudaram tão em profundidade o processo que a substância, a consistência, mesmo na divergência entre os ministros, foi algo extraordinário. Eles decidiram com convicção, com conhecimento, isenção, autonomia, independência", diz o jurista.
Na avaliação de Ives Gandra, o julgamento foi histórico e jurídico, e não político. Segundo ele, durante o curso do processo é que serão conhecidos os elementos de defesa dos 40 acusados, o que garantirá uma decisão justa. "Tenho a convicção de que no final, depois de uma investigação os ministros vão poder decidir com isenção, podendo absolver ou condenar, mas sempre à luz daquilo que for produzido nos autos."
Na avaliação do jornalista Cláudio Weber Abramo, da ONG Transparência Brasil (que tem como objetivo combater a corrupção), a aceitação da denúncia foi importante, mas o STF só vai marcar essa decisão como inovação histórica se for rápido no julgamento final dos mensaleiros. "Diversos ministros já demonstraram que são adeptos da interpretação gramatical da lei, ficam discutindo se a vírgula está aqui ou ali e se esquecem do fundamental. Outros têm uma noção mais clara do que é importante em uma ação judicial, que são os fatos, a vida. É um embate que se dará. Esse tipo de discussão, que é doutrinária, ideológica, vai determinar, pelo seu resultado, se esse processo vai ou não vai ser conduzido de uma maneira que justifique essa imputação de que é um processo histórico." E analisa: "Ele pode muito bem ser conduzido da maneira clássica no Brasil e demorar 60 anos para acontecer alguma coisa."