Será que eu vou engordar demais? Será menino ou menina? Será que vou saber dar banho? Será que ele escuta o que eu falo? Será que comprei roupa demais ou de menos? Será, será, será... Nem a mais segura das criaturas passa imune às dúvidas que cercam uma gravidez. A vida de uma mulher vira do avesso ao encarar um exame Beta HCG positivo. E junto com a barriga começam a crescer inúmeras dúvidas a respeito do futuro dela e da criança. E elas não vêm por ordem. Dominam a mente e o coração da mamãe de uma só vez, num rebuliço de fazer inveja a qualquer evolução de escola de samba.
Depois de trabalhar por 20 anos com casais de primeira viagem, a enfermeira obstetra Simone Rocco conseguiu colocar uma ordem de prioridade nos temores de mamães e papais que vão encarar o maravilhoso e desconhecido mundo do recém-nascido. Pelo menos no que diz respeito às questões práticas. A pesquisa foi realizada com 346 casais que freqüentaram os cursos pré-natais que Simone já orientou ao longo da sua carreira. E pela primeira vez conseguiu estabelecer um ranking das dúvidas, que foram transformadas em critérios para nortear as aulas dos cursos de gestantes, a partir dos principais anseios dos pais.
O grande desafio da estudante de Psicologia Jociele Grube Ferreira, de 21 anos, vai ser dar banho na filha Maria Thereza, que espera para a primeira quinzena de junho. "Morro de medo. Banheira, água, tamanho da criança. Tudo parece assustador", conta. Ela faz coro com 29,9% dos casais entrevistados, que temem as rotinas de higiene do recém-nascido, principalmente em relação ao banho. "Tudo é motivo de ansiedade, da temperatura da água ao modo de segurar a criança para não escorregar", explica Simone. Jociele e o marido Jaime Antônio de Camargo Ferreira esperam aprender essas e outras dicas no curso para casais grávidos que a enfermeira administra.
Mas o banho não é o maior pesadelo dos pais. Eles não sabem mesmo tudo o que o pediatra pode fazer com o bebê ainda na sala de parto. Sinais vitais, procedimentos emergenciais, primeiras avaliações são dúvidas de 39,9% dos casais grávidos entrevistados.
Em terceiro lugar estão as diferentes indicações do parto normal e da cesárea, com 28,61% das respostas. A secretária Stella Marina Matos Dallalana, 36 anos, espera a pequena Isadora para o fim do mês de junho. E torce para que a mocinha realmente agüente até lá para dar o ar da graça. Com a placenta já em processo de amadurecimento, mãe e filha entraram numa espécie de corrida maluca. Uma torcendo para a gravidez ir até o fim e a outra tentando antecipar o nascimento. O que não ajuda muito para a mamãe conter os anseios em relação ao parto. Faz constantes enquetes com mulheres que já passaram pela experiência para coletar informações a respeito. "Tenho medo de ela nascer prematura, de se enrolar no cordão, de ter complicações na hora do parto", enumera. "Neuras não faltam", diz.
Simone teve algumas surpresas com o resultado da investigação, que mostrou nos primeiros lugares preocupações em relação ao bebê, sua saúde e bem-estar, antes e após o parto. A anestesia e seus efeitos, por exemplo, só aparecem em sexto lugar. Assim como as dúvidas quanto aos efeitos estéticos da gravidez no próprio corpo, como engordar demais ou recuperar o peso antigo depois do parto, nem foram registradas. "Significa que a mulher coloca em primeiro lugar as preocupações com o bebê, antes de pensar nela mesma", avalia.
Ao identificar essas dúvidas e anseios, o levantamento, de certa forma, expõe a necessidade constante do acompanhamento pré-natal. Porque é na orientação do médico e dos profissionais de saúde que a mulher encontra respostas e conforto para superar essa fase tão delicada.
O psicólogo Juarez Marques Medeiros, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e integrante da equipe de ginecologia e obstetrícia do Hospital de Clínicas de Curitiba, defende ainda um atendimento multidisciplinar. Inviável em consultórios particulares, essa atenção é possível em programas da área pública, como no HC, onde as pacientes são atendidas por profissionais de diversas áreas. "Mais do que instruir, é preciso educar. Ou seja, passar a informação, mas também dar a chance dessa mulher aplicar isso de acordo com seus anseios e necessidades. Por que ela tem fobia do parto? Por que teme a amamentação? É dessa atenção que ela precisa", explica.