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Maternidade traz reações em cadeia

Os questionamentos da futura mãe vão muito além da própria habilidade em lidar com o bebê - envolvem, principalmente, a construção de uma nova identidade. "A filha, esposa, irmã vai se tornar mãe. E, por isso, vai rever seu papel na sociedade", explica o psicólogo Juarez Marques Medeiros, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A mulher acaba repassando valores pessoais, sociais e familiares quando se descobre mãe. Em nove meses precisa conhecer essa nova pessoa, sujeita a diferentes pressões e exigências, de acordo com seu nível cultural, educação, religião, relação familiar e autoconhecimento. "São mudanças muito intensas em um tempo muito curto. Cada mulher vai responder de uma maneira particular, mas todas passam por isso", aponta.

Angústias

Há autores que dividem as angústias próprias da gestação de acordo com o período. No primeiro trimestre há o medo de sofrer aborto espontâneo. E a mulher ainda não se sente grávida. No segundo trimestre, quando sente o bebê mexer, a gestante começa a entender a nova condição. No final da gravidez surgem as dúvidas sobre os sinais, posição fetal, dores. "Ela vai descobrir a força desse novo papel e se surpreender com isso. No fim das contas, a mãe que vai ser está dentro dela", diz o psicólogo.

Será que eu vou engordar demais? Será menino ou menina? Será que vou saber dar banho? Será que ele escuta o que eu falo? Será que comprei roupa demais – ou de menos? Será, será, será... Nem a mais segura das criaturas passa imune às dúvidas que cercam uma gravidez. A vida de uma mulher vira do avesso ao encarar um exame Beta HCG positivo. E junto com a barriga começam a crescer inúmeras dúvidas a respeito do futuro dela e da criança. E elas não vêm por ordem. Dominam a mente e o coração da mamãe de uma só vez, num rebuliço de fazer inveja a qualquer evolução de escola de samba.

Depois de trabalhar por 20 anos com casais de primeira viagem, a enfermeira obstetra Simone Rocco conseguiu colocar uma ordem de prioridade nos temores de mamães e papais que vão encarar o maravilhoso e desconhecido mundo do recém-nascido. Pelo menos no que diz respeito às questões práticas. A pesquisa foi realizada com 346 casais que freqüentaram os cursos pré-natais que Simone já orientou ao longo da sua carreira. E pela primeira vez conseguiu estabelecer um ranking das dúvidas, que foram transformadas em critérios para nortear as aulas dos cursos de gestantes, a partir dos principais anseios dos pais.

O grande desafio da estudante de Psicologia Jociele Grube Ferreira, de 21 anos, vai ser dar banho na filha Maria Thereza, que espera para a primeira quinzena de junho. "Morro de medo. Banheira, água, tamanho da criança. Tudo parece assustador", conta. Ela faz coro com 29,9% dos casais entrevistados, que temem as rotinas de higiene do recém-nascido, principalmente em relação ao banho. "Tudo é motivo de ansiedade, da temperatura da água ao modo de segurar a criança para não escorregar", explica Simone. Jociele e o marido Jaime Antônio de Camargo Ferreira esperam aprender essas e outras dicas no curso para casais grávidos que a enfermeira administra.

Mas o banho não é o maior pesadelo dos pais. Eles não sabem mesmo tudo o que o pediatra pode fazer com o bebê ainda na sala de parto. Sinais vitais, procedimentos emergenciais, primeiras avaliações são dúvidas de 39,9% dos casais grávidos entrevistados.

Em terceiro lugar estão as diferentes indicações do parto normal e da cesárea, com 28,61% das respostas. A secretária Stella Marina Matos Dallalana, 36 anos, espera a pequena Isadora para o fim do mês de junho. E torce para que a mocinha realmente agüente até lá para dar o ar da graça. Com a placenta já em processo de amadurecimento, mãe e filha entraram numa espécie de corrida maluca. Uma torcendo para a gravidez ir até o fim e a outra tentando antecipar o nascimento. O que não ajuda muito para a mamãe conter os anseios em relação ao parto. Faz constantes enquetes com mulheres que já passaram pela experiência para coletar informações a respeito. "Tenho medo de ela nascer prematura, de se enrolar no cordão, de ter complicações na hora do parto", enumera. "Neuras não faltam", diz.

Simone teve algumas surpresas com o resultado da investigação, que mostrou nos primeiros lugares preocupações em relação ao bebê, sua saúde e bem-estar, antes e após o parto. A anestesia e seus efeitos, por exemplo, só aparecem em sexto lugar. Assim como as dúvidas quanto aos efeitos estéticos da gravidez no próprio corpo, como engordar demais ou recuperar o peso antigo depois do parto, nem foram registradas. "Significa que a mulher coloca em primeiro lugar as preocupações com o bebê, antes de pensar nela mesma", avalia.

Ao identificar essas dúvidas e anseios, o levantamento, de certa forma, expõe a necessidade constante do acompanhamento pré-natal. Porque é na orientação do médico e dos profissionais de saúde que a mulher encontra respostas e conforto para superar essa fase tão delicada.

O psicólogo Juarez Marques Medeiros, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e integrante da equipe de ginecologia e obstetrícia do Hospital de Clínicas de Curitiba, defende ainda um atendimento multidisciplinar. Inviável em consultórios particulares, essa atenção é possível em programas da área pública, como no HC, onde as pacientes são atendidas por profissionais de diversas áreas. "Mais do que instruir, é preciso educar. Ou seja, passar a informação, mas também dar a chance dessa mulher aplicar isso de acordo com seus anseios e necessidades. Por que ela tem fobia do parto? Por que teme a amamentação? É dessa atenção que ela precisa", explica.

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