Cigarros apreendidos: maior volume se explica não só pelo aumento da fiscalização, mas também pelo crescimento do consumo| Foto: Roger Meireles

Foz do Iguaçu - A queda nas vendas no comércio paraguaio não retraiu o contrabando de cigarros para o Brasil. Somente nos primeiros três meses deste ano, a Polícia Federal (PF) de Cascavel apreendeu cerca de 200 mil pacotes do produto em rodovias e depósitos clandestinos em todo o Oeste do Paraná. No ano passado, o total chegou a 750 mil. Na madrugada de ontem ocorreram mais duas apreensões. Um caminhão carregado com 400 caixas da mercadoria foi interceptado em um porto clandestino no município de Entre Rios do Oeste. No centro de Palotina, após denúncia anônima, foram encontrados 4.250 maços de cigarro em meio a uma carga de 11.880 quilos de frango, distribuídos em 660 caixas de papelão. Três homens foram presos e foi apreendido um caminhão com placas de Botucatu (SP).

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O delegado Algacir Mikalovisky diz que as apreensões estão crescendo se comparado ao ritmo do ano passado em razão da intensificação da ação da polícia em toda a região e do aumento do consumo do produto no Brasil, estimulado pelo baixo preço da mercadoria contrabandeada. Um maço de cigarro do Paraguai pode ser adquirido no Brasil por R$ 0,15, enquanto que o mais barato fabricado no Brasil custa R$ 2,40. "Quem fomenta é o consumidor. Se não houver consumidor não haverá contrabandista e intermediário", diz o delegado.

Para barrar os contrabandistas, a polícia intensificou a fiscalização em rodovias e trabalha com serviço de inteligência. Inúmeros depósitos provisórios para armazenar o produto tem sido descobertos em toda a região, principalmente em propriedades rurais. Na avaliação do delegado, as apreensões deste ano devem superar as do ano passado.

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O cigarro apreendido ontem foi localizado na linha Felicidade, no interior do município de Entre Rios do Oeste, próximo ao Lago de Itaipu. Um adolescente que mora em Santa Helena foi apreendido depois de ter admitido carregar o produto que estava em uma carreta placas AIX 5220, de Curitiba.

Geralmente, o cigarro sai de Foz do Iguaçu em carretas, às vezes misturados com outras mercadorias – entre elas cargas de cebola, frango – para serem transportados até municípios do Oeste ou Sudoeste onde há depósitos provisórios para armazenar produto, distribuído na sequência para outras localidades do Paraná e estados vizinhos. A estratégia indica que grosso do contrabando vem sendo feito por quadrilhas que corrompe servidores públicos.

Quando não encontram o cigarro em depósitos, os policias fazem apreensões em rodovias. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Cascavel tem apreendido praticamente todos os dias cigarros em veículos pequenos que cruzam as rodovias da região. Em 2009, o total retido chega a 135 mil pacotes, contra 370 em 2008. "Este ano o cigarro está sendo o carro-chefe dos muambeiros", diz o inspetor João Roberto Secco.

Em Foz do Iguaçu, rota de saída da mercadoria, as apreensões estão em queda porque a maior parte do produto entra no Brasil via Lago de Itaipu e é apreendida em pequenos municípios do Oeste. Segundo a Receita Federal de Foz, o total de cigarro apreendido nos dois primeiros meses deste ano caiu 26% em relação ao mesmo período do ano passado.

Apesar de o consumo do produto estar em alta no Brasil, a qualidade é questionável. Laudos feitos a pedido da Associação Brasileira de Combate à Fiscalização (ABCF) indicam que o cigarro fabricado no Paraguai é de péssima qualidade. Conforme o representante da ABCF Luciano Stremel o estudo revelou a presença de organoclorados 1, organofosforato e cumarina, substâncias químicas encontradas em inseticidades que são impróprias para o consumo humano. O laudo ainda apontou a existência de limalha de ferro e pedaços de insetos.

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Para Stremel, o grosso do cigarro paraguaio entra no Brasil por meio de quadrilhas e não mais de sacoleiros.