A chegada do Uber a Curitiba representaria a conquista de autonomia para muitos motoristas que trabalham hoje como taxistas colaboradores – chamados de “segundos”, no jargão da profissão. Estes não detêm placas de táxi e, por isso, têm que pagar diárias ou arrendar o carro dos autorizatários, os titulares das placas.
“Hoje, nós somos explorados por uma máfia. É quase uma escravidão moderna. Se o Uber viesse, 90% dos ‘segundos’ compraria um carro e trabalharia com o aplicativo”, disse um taxista colaborador. “Se o Uber começasse a operar em um dia aqui, no outro dia eu estaria em uma concessionária, financiando um carro para trabalhar com eles”, apontou outro. Ambos concederam entrevista sob condição de anonimato, por temerem represálias da categoria.
De acordo com os taxistas colaboradores, cerca de 60% do que eles arrecadavam vão para as mãos dos autorizatários, muitos dos quais nunca estiveram ao volante de um táxi. Em 2008 e 2013, por exemplo, séries de reportagens da Gazeta do Povo mostraram que placas eram vendidas no mercado clandestino e usadas para fins especulativos por profissionais, como médicos, advogados e delegados de polícia. “O ‘dono’ da placa do táxi em que trabalho nunca dirigiu o carro. Ele vive de cobrar diárias dos motoristas. O Uber seria uma forma de a gente se ver livre dessa máfia”, apontou um “segundo”.
Outro taxista está relegado a uma dinâmica semelhante. Ele paga diária de R$ 150 para uma mulher que herdou a placa do marido e que nunca dirigiu o táxi. “Em cada expediente, eu começo devendo R$ 150. Tenho que sustentar a minha família e a dela”, disse.