Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Dia do Trabalho

Para todo serviço há um trabalhador

Vídeo | Reprodução / Paraná TV
Vídeo (Foto: Reprodução / Paraná TV)

Existem hoje no Brasil 2.422 profissões registradas no Ministério do Trabalho, número que varia a cada ano com a inclusão de atividades criadas conforme a necessidade e a criatividade do brasileiro. Tamanha diversidade de ocupações fez surgir a classe dos orientadores vocacionais, que têm como profissão orientar outras pessoas a escolher uma carreira. Mas há profissões cuja vocação não se descobre em testes. Umas nascem meio por acaso, outras vêm na esteira de um novo filão do mercado de trabalho, ou simplesmente surgem da necessidade de sobrevivência. E explicar o significado dessas profissões exige quase uma nova profissão.

Quantas pessoas sabem o que faz o raqueador, o taxidermista, o atuário, o magarefe ou o restaurador de face? Vamos pela ordem: escova cavalos, empalha bichos, redige atas, abate animais em frigorífico e, por fim, maquia defuntos. Já no mundo virtual, a internet tem sido pródiga na criação de novas profissões, em geral para um público especializado que precisa entender os meandros de uma mídia interativa. Os nomes são sempre em inglês, a língua da web. O Q.A. modem leader, por exemplo, testa os softwares das empresas, o graphic artist desenha as páginas dos sites e o content manager responde pelo conteúdo da homepage.

Mas nem tudo é sofisticação. Há as profissões prosaicas como vitrine viva (modelos que fingem de estátua), outras curiosas como a do coletor de esperma para reprodução animal, ou as altamente consternadoras como das enfermeiras de pessoas queimadas. Na classe dos "serviços sujos", porém necessários, estão o zelador de cinema pornô, a faxineira de motel e o limpador de fossas. Nesta categoria incluem-se ainda os "agentes controladores de vetores", como o barbosense Marcos Roberto Nepomuceno. Nascido na pequena Barbosa Ferraz, no Norte do estado, ele sonhava em ser jogador de futebol. Chegou a tentar a profissão em Marginá, mas não foi para frente. Acabou vindo para Curitiba para trabalhar como garçom. Trabalhava muito e ganhava pouco. Foi então, meio por acaso, que descobriu a profissão que exerce há 8 anos e meio.

Na carteira de trabalho Marcos é "agente controlador de vetores", mas na prática ele recolhe animais mortos largados nas ruas da cidade. Não era bem a profissão imaginada ao responder várias vezes à indefectível pergunta à qual nenhuma criança está livre: "O que você quer ser quando crescer?" Mas mesmo sem querer, esse perna-de-pau torcedor do Atlético Paranaense descobriu um meio de se tornar mais útil à sociedade do que jogando bola. Os números confirmam isso.

Só no ano passado, Marcos e cinco colegas de trabalho juntaram nada menos do que 13.298 cães mortos, 387 gatos, 55 cavalos e 16 vacas. Apesar das dificuldades da profissão, que incluem recolher animais em decomposição e em lugares impróprios, como bueiros, Marcos não desanima. "Com o tempo a gente se acostuma", diz. Hoje, aos 27 anos, não se arrepende de ter trocado a camisa branca e a gravata borboleta por luvas de borracha e macacão. O salário é de apenas R$ 476,00 brutos, mais alguns benefícios, mas ele encontra satisfação na relevância do serviço prestado. Para quem ainda duvida da importância desse trabalho, basta imaginar 14 mil bichos mortos se decompondo nas ruas, nas calçadas, nos quintais e terrenos baldios. Esta é a média anual recolhida em Curitiba, perto de 40 por dia.

Amor

A relevância do trabalho realizado e o amor ao próximo também ajudaram Louize de Sá a superar as dificuldades da sua primeira experiência profissional. Enfermeira recém-formada, Louize se deparou com as aflições da ala de queimados de um hospital. Isso foi há um ano e meio, tempo suficiente para essa jovem de 26 anos se acostumar a uma das mais árduas rotinas da área médica. Em janeiro, o Hospital Evangélico atendeu 478 pessoas queimadas. Embora em menor número, os casos de crianças são os que mais chocam e sensibilizam.

No início da profissão, Louize fugia da sala toda vez que a campanhia tocava seguida a um choro de criança. Pedia para outra enfermeira atender. Pacientes queimados geralmente ficam mais tempo no hospital – quase nunca menos de um mês e muitas vezes por mais de um ano. É tanto tempo que os funcionários do hospital acabam se afeiçoando aos pacientes. "A gente se apaixona pelo trabalho, acaba criando um vínculo emocional com os pacientes", diz Louize. "É preciso ter equilíbrio, sem sentir pena, mas sem ser frio com a dor alheia."

A enfermeira foi promovida há um mês. Com o salário dobrado, ela agora atua na Unidade de Saúde do Bairro Novo, conveniada ao Hospital Evangélico, onde continua atendendo vítimas de queimaduras. "Todo dia aparece alguém queimado na unidade. Senão, ia pedir para voltar", afirma.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.