Ciudad del Este O Paraguai agarra-se ao turismo para superar a crise comercial causada pela política de repressão ao contrabando desencadeada pelo governo brasileiro na região de Foz do Iguaçu. As obras de revitalização do microcentro de Ciudad del Este e a nova cota de US$ 300 (R$ 675) para compras sem impostos estão animando os turistas a cruzar a fronteira com o Brasil para visitar o maior shopping a céu aberto do Cone Sul.
Segundo o presidente do Centro de Importadores e Comerciantes de Alto Paraná (Cicap), Charif Hammoud, o movimento de turistas em Ciudad del Este cresceu 30% a partir de julho. "Aumentaram os turistas e diminuíram os sacoleiros", diz. O otimismo no país vizinho também se deve, em parte, ao crescimento do índice de visitação em Foz do Iguaçu. Este ano, a cidade recebeu 684.165 turistas até agosto, quantidade 12% maior que no mesmo período do ano passado.
O secretário de Turismo de Ciudad del Este, Mauro Céspedes, diz que o município paraguaio recebe de 2% a 3% dos turistas que visitam Foz. Em julho, o número chegou a 10%, mas a intenção é atrair 20% dos visitantes na época do Natal. As lojas que vendem produtos de primeira linha e de marcas conhecidas são as que mais estão lucrando, conquistando clientes que respeitam a cota de US$ 300.
A Casa China, pioneira do comércio de Ciudad del Este com 35 anos de existência, é um dos exemplos. O gerente da loja, Inácio Duarte, 33 anos, diz que o movimento melhorou bastante este ano, o que levou o estabelecimento a contratar mais 30 funcionários. "Não estamos sentindo a crise", diz. Com 18 setores para venda de diferentes produtos, a Casa China também investiu na reforma das instalações para atrair os clientes.
A situação é a inversa para os lojistas acostumados a atender os sacoleiros. A fiscalização de ônibus nas rodovias paranaenses feita pela Receita Federal (RF) e polícias rodoviárias estadual e federal está distanciando os compradores que ad-quirem mercadorias do Paraguai em grande escala para a revenda no Brasil. Em uma loja especializada em celulares, as vendas caíram 50%.
Segundo os lojistas, o aumento da cota de US$ 150 para US$ 300 não fez diferença. O brasileiro Derli Adolfo Bubans, funcionário do estabelecimento que funciona há 15 anos em Ciudad del Este, diz que essa é a pior crise do comércio da última década.
Segundo o presidente da Câmara de Comércio de Ciudad del Este, Aly Abou Saleh, toda semana cerca de 35 solicitações para fechamento temporário ou definitivo de lojas são encaminhadas à prefeitura de Ciudad del Este. A maioria é de pequenos comerciantes que não conseguem sobreviver à fase de transição.
Para Saleh, o Brasil ainda não está dando a atenção devida para fomentar o turismo em Ciudad del Este. Segundo ele, os problemas de trânsito na Ponte da Amizade e as filas para fazer a declaração de bagagens e pagar impostos na aduana brasileira são alguns dos exemplos das dificuldades que os turistas têm de enfrentar para comprar produtos importados. "Para o Paraguai, Ciudad del Este é muito importante. O Brasil deveria pensar nesta situação. Se o seu parceiro morrer, você vai ter de carregá-lo no colo", alerta. Considerada essencial para o país, Ciudad del Este é o município do interior do Paraguai que mais arrecada impostos.
Saleh faz questão de enfatizar que Ciudad del Este não nasceu em função dos sacoleiros. O surgimento do comércio foi incentivado pelos turistas, enquanto que os sacoleiros não passam de uma necessidade provocada pela economia brasileira.
Visitantes
684 mil turistasvisitaram Foz do Iguaçu de janeiro a agosto de 2005, 12% a mais do que no mesmo período do ano passado.
30% de aumentofoi registrado no número de turistas que visitaram Ciudad del Este desde julho deste ano.
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