Marcas como Louis Vuitton e Dolce & Gabbana têm suas versões “xing-ling” encontradas nas ruas de Ciudad del Este| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Formalização

Nas ruas, a pirataria está por todos os lados. É difícil não ver uma peça falsificada em destaque na vitrine. Mas em lojas voltadas para turistas, a situação é outra. Muitas delas, hoje, já emitem nota fiscal e garantem a procedência da mercadoria.

A polícia paraguaia, com apoio do Ministério Público, também faz blitze e apreensões de produtos piratas no comércio de Ciudad del Este, embora seja difícil conter a ação dos falsificadores.

"Quando tem blitze, as lojas ficam sabendo com antecedência e já escondem as mercadorias piratas", diz um vendedor.

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US$ 100 é o que custa um aparelho celular Samsung falsificado, à venda em qualquer loja do Centro de Ciudad del Este. O valor praticado pelo produto "xing-ling" é quase três vezes mais barato do que o original.

Destino cobiçado pelo turismo de compras, o Paraguai aos poucos busca reverter a imagem de "paraíso da pirataria". Ações do Ministério Público e da polícia estão em pauta para conter o comércio da falsificação nas ruas de Ciudad del Este, fronteira com Foz do Iguaçu. Porém, uma das principais barreiras é o próprio consumidor. Para manter o status aparente, muitas pessoas não se importam em comprar imitações da bolsa Louis Vuitton ou de um celular Samsung.

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No mais recente relatório sobre pirataria elaborado pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, divulgado no início deste mês, o Paraguai aparece na lista de país "em vigilância" por causa da falsificação. A notícia é boa porque nos últimos anos o país ocupava o rol de "países prioritários".

Membro da Câmara Para­guai-Americana e presidente do Centro de Importadores de Ciudad del Este (Cicap), o comerciante Shariff Hammoud diz que o Paraguai tem feito "tudo o que pode" para se livrar da pecha de pirata. Para isso, não falta apoio da embaixada norte-americana, que dá suporte à polícia e ao Ministério Público nas ações antipiratarias.

Celulares

Na lista de produtos mais pirateados, estão brinquedos, CDs, baterias, cigarros e celulares. Boa parte está à venda nas ruas ou em lojas pequenas. Estimativas dos vendedores indicam que as réplicas de celulares representam 50% do mercado. Entre as quinquilharias, existe até mesmo aparelhos "xing-ling" que levam as marcas Louis Vuitton e Dolce & Gabbana. Eles não existem na versão original, mas fazem sucesso entre as mulheres. "As mulheres compram igual água", diz um vendedor que não quis se identificar. O preço: cerca de US$ 40.

Em algumas lojas, réplicas de celulares das marcas Samsung e Nokia são comercializados livremente. Um Samsung falsificado pode ser encontrado por US$ 100, cerca de três vezes mais barato que o original.

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Para o representante da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF), Luciano Barros, o Paraguai funciona como um hub para distribuição da pirataria, cujos produtos na maioria são chineses. "O produto mais pirateado pela indústria paraguaia é o cigarro, uma vez que representa 30% do consumo brasileiro e entra em território nacional sem o recolhimento de tributos. Não existe um só maço de cigarros exportado do Paraguai para o Brasil", afirma. O prejuízo da pirataria de cigarros para a indústria nacional é de aproximadamente R$ 5 bilhões ao ano, segundo a ABCF. Cerca de 90% da mercadoria é contrabandeada do Paraguai.

Diretor da Federação de Câmaras Comerciais de Ciudad del Este (Fedecamâra), Tony Santamaría, diz que a responsabilidade de combater a pirataria é dos fabricantes. "Nós compramos equipamentos de boa-fé", diz. Para ele, a Organização Mundial do Comércio (OMC) precisa punir a China pela venda de falsificados.

Rede emprega mulheres e adolescentes

Muitos produtos já chegam da China falsificados, mas o Paraguai também tem sua própria rede da ilegalidade. Nos porões de Ciudad del Este, selos, carimbos e adesivos ganham a vez em roupas, sapatos, pen drive, carcaças de celular ou bolsas. Algumas peças da engrenagem pirata também são trazidas da China.

Nas ruas, a pirataria é movimentada por ambulantes e camelôs. Entre eles, mulheres e adolescentes.

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Jorge*, 22 anos, é um deles. Vendedor de meias, ele diz que muitos clientes sabem que estão comprando produtos falsos, embora não se importem porque o preço é mais em conta. "Tem brasileiro que vem é só quer comprar coisa mais barata e aí acaba comprando falsificado", diz. O rapaz repassa produtos falsificados há cerca de cinco anos e começou a trajetória na ilegalidade vendendo CDs e DVDs. Ele comercializa imitações de meias das marcas Adidas e Nike e explica, didaticamente, que há diferentes graus de falsificação.

Antonio*, 16 anos, é outro jovem que disputa espaço no concorrido mercado pirata. O garoto tem muitos clientes brasileiros. "Eles compram pacotes de meias e vendem do outro lado [Brasil]". Às vezes eles levam 10 pacotes e vendem cada pacote por R$ 35 ou R$ 45. Clientes brasileiros é o que mais os rapazes mais têm. "Eles já conhecem a gente. Dizem ‘olha aí o menino que vende meia para nós’".

*Os nomes são fictícios