Floresta
Topografia da Grande Curitiba favorece derrubada
A expansão dos municípios da região metropolitana da capital paranaense é apontada pelo diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, como um dos possíveis motivos da migração do desmatamento que ocorria no interior do estado para a Grande Curitiba. Das dez cidades com maior área desflorestada no Paraná, mais da metade estão na RMC. O chefe do escritório regional do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Reginato Bueno, atribui os índices da RMC à topografia nada favorável para atividade de agricultura e também à forte pressão econômica para o plantio de pinus e eucalipto. Segundo ele, a maior dificuldade hoje está no controle da comercialização da madeira retirada de forma clandestina. Apesar desses fatores, Bueno garante que as equipes de fiscalização estão atentas, mas diz que empresários e cidadãos podem contribuir para evitar o comércio ilegal de madeira, deixando de comprar madeira sem certificação florestal ou selo de origem.
Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina figuram como os estados com maior área desflorestada entre nove estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste avaliados até agora para a atualização do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que compreende o período de 2008-2010. A pesquisa realizada pela SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi divulgada ontem, véspera do Dia Nacional da Mata Atlântica. Os dados parciais mostram que 20.867 hectares de floresta nativa, área que equivale a metade de Curitiba, foram suprimidas nos nove estados. Minas aparece em primeiro lugar no ranking com a maior área devastada. Os cinco municípios que mais desmataram o bioma estão todos no norte de Minas, em florestas de transição entre Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Nessas áreas há exploração de lenha para a fabricação de carvão vegetal. É a mesma região que concentrara a derrubada em 2005-2008. Um projeto de lei na Assembleia Legislativa mineira pode mascarar os números reais do desflorestamento, com a retirada das chamadas "florestas secas" da proteção da Lei da Mata Atlântica. "Isso legalizaria desmatamentos ali onde o problema é o contrabando, considera o diretor de Políticas Públicas do SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani.
Avanço
Apesar de continuar registrando uma queda de 19% no ritmo de desmatamento, o Paraná ainda é o segundo colocado em relação ao tamanho da área desflorestada. O estado, segundo Mantovani, continua sendo um desafio porque sempre resistiu à legislação da Mata Atlântica. "Há setores que não consideram as áreas de Mata Atlântica como tal. É uma dificuldade que tem de ser superada porque temos um novo fenômeno que precisa ser observado", diz. Os dados apresentados ontem mostram que o desmatamento, antes registrado no interior do estado, migrou para a região metropolitana de Curitiba. Rio Branco do Sul, distante 33 km da capital, é o município com maior área devastada no estado e no Sul do país.
Tradicional destruidora do bioma, Santa Catarina apareceu em terceiro com maior área desmatada, mas com a menor taxa de desmantamento. Segundo Flávio Ponzoni, coordenador do monitoramento da Mata Atlântica do Inpe, a queda provavelmente pode ser explicada pelas chuvas do fim de 2008, que arrasaram Santa Catarina e frearam a economia.
O Rio Grande do Sul ficou com o quarto lugar em área devastada e com o maior índice de desmatamento. A devastação se concentrou na região serrana. Para Márcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica, a razão da explosão do desmatamento observado em terras gaúchas ainda precisa ser explicada.
Apesar dos altos índices de desmatamento em Minas e Rio Grande do Sul, as dados de ontem mostram um aspecto positivo com a queda de 21% no índice global em comparação com o período anterior de 2005 a 2008. Para Mário Mantovani, o impacto da Lei da Mata Atlântica, a regulamentação dos estados, a eficiência da fiscalização e a atenção maior das organizações não governamentais ajudaram o reduzir o desmate. Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e também São Paulo são áreas críticas para a Mata Atlântica, pois são os estados que mais possuem remanescentes florestais em seus territórios e acabam sofrendo grandes desmatamentos em números absolutos.
Pesquisa
Para a realização da sexta edição do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica foram avaliados, até agora, 94.912.769 hectares ou 72% da área total do bioma Mata Atlântica. Os estados do Nordeste ainda não puderam ser incluídos na atualização devido aos elevados índices de cobertura de nuvens. A previsão é que os dados globais do bioma, dos 17 estados onde a Mata Atlântica ocorre, sejam levantados até o fim do ano. "Será o Mapa Zero tanto para o presidente da República quanto para os governos estaduais", disse Márcia.
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