Maringá - Com acervo de 300 obras em braile e livros falados, Maringá ganhou, na última semana, a primeira biblioteca paranaense exclusiva para deficientes visuais. A estrutura inicial não é a ideal, mas representa um grande avanço para os leitores cegos da região, que, até então, não contavam com nenhum espaço semelhante.
A iniciativa surgiu quando o Centro de Apoio Pedagógico (CAP) da cidade, responsável pelo projeto, não tinha mais onde guardar os livros em braile que possui. A biblioteca foi instalada na sede da Associação dos Deficientes Visuais de Maringá (Adevimar) e funciona uma vez por semana, toda quarta-feira.
Na estante estão livros de literatura brasileira, como O Alienista, de Machado de Assis e Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Também integram o acervo clássicos como os contos dos Irmãos Grimm e até best-sellers internacionais, como Harry Potter, de J.K. Rowling (apenas um dos títulos da série, dividido em 16 volumes).
Diante das dificuldades de custo que envolvem a produção de livros em braile, a biblioteca também aposta na oferta de livros digitais. O sistema consiste em um arquivo de texto que pode ser lido, no computador, por um software específico. O cego ouve o que está escrito por meio de uma voz sintetizada, com a vantagem de que qualquer livro ou texto pode ser convertido para esse formato.
Acesso
O técnico revisor de braile no CAP de Maringá, Ricardo Alexandre Vieira, acredita que a biblioteca é um incentivo à leitura, especialmente das crianças que participam de outros projetos da associação.
"O deficiente visual não tem essa cultura de ir à biblioteca e pegar um livro. Na escola ele não tinha um livro para ler. Não são como vocês (não cegos), que quando precisam de alguma coisa vão pesquisar na biblioteca. O cego não tinha esse direito", diz Vieira. A Fundação Dorina Nowill, de incentivo cultural aos deficientes visuais, estima que apenas 10% dos cegos dominem a leitura braile.
Além do caráter inclusivo, o projeto cumpre ainda outro papel social, já que parte das obras é produzida pelos presos da Penitenciária Estadual de Maringá (PEM). "Os detentos gravam livros falados e também digitam livros didáticos com caracteres em braile. O material fica arquivado e vai sendo impresso conforme a demanda", explica Vieira, que é cego.
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