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Ensino superior

Paraná importa 70% dos doutores

Por falta de opção no Paraná, o professor Erildo Müller se viu obrigado a viajar a São Paulo para fazer o doutorado | Erildo Muller/JT
Por falta de opção no Paraná, o professor Erildo Müller se viu obrigado a viajar a São Paulo para fazer o doutorado (Foto: Erildo Muller/JT)

Sete em cada dez profissionais com doutorado que trabalham no Paraná obtiveram o título em outros estados. É o que revela um levantamento do Ins­ti­tu­to Paranaense de Desen­vol­vimento Econômico e Social (Ipardes) e da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) divulgado recentemente. Dos 4.496 doutores contabilizados em 2008, apenas 1.291 defenderam suas teses em instituições paranaenses de ensino superior. A principal origem dos profissionais que vieram de fora é São Paulo.

A "importação" de profissionais deixa clara a deficiência do Paraná na oferta de doutorados. Mas isso está mudando. O mesmo estudo aponta que o estado registrou um crescimento superior à média na­­cional na criação de cursos de doutorado entre 1999 e 2009 – 204% (de 26 para 79 cursos) contra 78% no Brasil (de 800 para 1.421). É justamente essa relação que explica o alto número de doutores formados fora do Paraná.

O diretor de pesquisas do Ipardes, Júlio Suzuki, explica que o desenvolvimento do ensino superior no Paraná obrigou o estado a importar doutores. Cursos recém-criados, por exemplo, precisam de professores doutores para ministrar as aulas. "A demanda por doutores cresceu mais do que o Paraná formava, o que levou ao contexto de importação destes profissionais. Isso também demonstra que há espaço para que os cursos de pós-graduação cresçam ainda mais no estado", afirma.

Segundo o pesquisador Ma­­riano Macedo, que participou do estudo, aproximadamente 96,7% das pessoas que têm doutorado no Paraná trabalham em universidades.

Mas, apesar do crescimento, a oferta de cursos no estado ainda está longe do ideal. "Em números absolutos, a quantidade de programas de doutorado ainda é pequena", diz Maria Elizabeth Lunardi, coordenadora do levantamento na Seti. No Rio Grande do Sul, por exemplo, existiam 140 cursos de doutorado em 2009 – 44% a mais que no Paraná.

O fato é que naquele ano o estado formou mais que o dobro de doutores em relação à média brasileira. O número de titulados passou de 85, em 1999, para 411, um crescimento de 384%. Já o aumento no Brasil foi de 135%.

Para a doutora em Educação, formada na Universidade Federal do Paraná, Andréa do Rocio, é essencial manter essa curva ascendente. "[A criação de novos cursos] é um processo gradativo que deve continuar. Assim, é possível trabalhar com pesquisas que atendam às realidades locais", ressalta.

Descentralização

O levantamento do Ipardes aponta para uma tendência de descentralização da oferta de doutorados. Em 1996, as universidades localizadas na Região Sudeste foram responsáveis por 89% dos doutores titulados no país. Dez anos depois, essa proporção caiu para 70%. Entre 1996 e 2008, a participação paranaense na formação de doutores aumentou de 1% para 3,3%.

"O Paraná já forma doutores que vão atuar em outros estados. Em qualquer sistema de ensino, investir em pós-graduação é uma ótima ideia, já que contribui para o desenvolvimento da sociedade e dos cursos de ensino superior", diz Macedo.

Titulação tem reflexo no avanço científico

Um estado com muitos doutores pode refletir em avanços científicos e tecnológicos. Em São Paulo, por exemplo, pesquisadores da Universidade Estadual de Cam­­pi­­nas (Unicamp) descobriram no ano passado uma das causas da leu­­cemia. Neste ano, pesquisadores do Instituto Butantã e da Uni­versidade de São Paulo (USP) de­­sen­­volveram uma vacina para he­­patite B que pode ser consumida por via oral. Os testes em humanos devem começar no próximo ano.

A primeira pesquisa foi resultado de uma tese de doutorado e a segunda envolveu doutores já titulados. Nas empresas, os doutores podem contribuir e muito para os avanços tecnológicos e o desenvolvimento de novos produtos. "O nosso país, de modo geral, não tem cultura de descobertas. Faltam políticas públicas voltadas à área de ciência e tecnologia para o de­­senvolvimento de novos produtos", afirma o diretor de pesquisas do Ipardes, Júlio Suzuki.

Segundo ele, o doutorado no Brasil ainda está preso à cultura da produção de uma tese, que nem sempre tem aplicação prática. "Dificilmente é elaborado algo que possa contribuir para toda a sociedade. Não há essa preocupação", comenta.

Interatividade

A oferta de doutorados no Paraná é suficiente para atender à demanda por conhecimento e pesquisa? Por quê?

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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