O Paraná está entre os 21 estados brasileiros que não cumpriram a meta de combate à hanseníase estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença é considerada eliminada de uma região pela OMS quando existe no máximo um doente para cada grupo de 10 mil habitantes. O Paraná registrou no ano passado 1,42 doente em tratamento para cada 10 mil habitantes. O índice ainda está abaixo da média nacional que é de 1,71 , mas é alto se comparado com os outros três estados da Região Sul do país. De todos os doentes do Sul, de cerca de 80% estão no Paraná. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, a doença já é considerada eliminada, segundo o coeficiente estabelecido pela OMS.
O comprometimento do governo brasileiro com a OMS era de eliminar a hanseníase até 2000, mas a meta foi adiada para este ano. No entanto, ela dificilmente será atingida até dezembro. O Ministério da Saúde estima que a hanseníase só seja definitivamente banida do solo brasileiro até o ano de 2010, quando a OMS deixará de fornecer de graça os remédios para o tratamento.
Correndo atrás do prejuízo, o governo colocou alguns municípios como prioridade. Eles receberão recursos do Fundo da Saúde para realizar campanhas e capacitação dos agentes que atuam no Programa Saúde da Família. No Paraná, foram escolhidas as cidades de Curitiba, Foz do Iguaçu e Londrina. São municípios que nem sempre apresentam os maiores números de casos da doença por 10 mil habitantes, mas foram os que registraram aumento de pelo menos 50 casos no último ano, tiveram acréscimo de mais de 10 casos em crianças e reuniram ainda mais de 10 casos de contágio. O valor do repasse aos municípios ainda está sendo levantado pelo Ministério.
A coordenadora do programa nacional de eliminação da hanseníase do Ministério da Saúde, Rosa Castália, explica que o Paraná já mostrou um decréscimo no número de registros de doentes de hanseníase. Em junho, por exemplo, foram registrados 1,26 casos por 10 mil habitantes uma redução de 11% no índice do ano passado. "O estado está próximo de alcançar a meta (estabelecida pela OMS), entretanto o cumprimento dependerá da prioridade dada pelos gestores à questão da descentralização efetiva das ações de diagnóstico e tratamento", disse.
Divergências
Os números apresentados pelo Programa de Eliminação da Hanseníase no Paraná, da Secretaria Estadual de Saúde, são diferentes dos apresentados pelo Ministério da Saúde e indicam que a situação da doença no estado pode ser ainda mais grave. Em 2004, foram 2.566 novos casos detectados diferente dos 1.852 registros apontados pelo Ministério da Saúde. O índice de prevalência também é maior, de 2,5 para cada 10 mil habitantes. Com isso, o estado ficaria acima da média nacional. Ainda assim, os registros são menores dos que os apontados no ano anterior. Em 2003 foram 2.792 casos, com índice de prevalência de 2,8.
O governo espera alcançar a meta estabelecida pela OMS até o fim deste ano. O objetivo foi estabelecido ontem na 2.ª Oficina para a Reorganização e a Implementação das Ações do Programa de Eliminação Hanseníase no Paraná, realizada em Guarapuava. O evento reuniu técnicos da Secretaria da Saúde e equipes que desenvolvem trabalhos diretamente com pessoas portadoras da doença nas regionais de saúde do estado. "Hoje o empenho é no sentido de descentralizar o programa e desenvolver ações em toda as regionais do estado", afirmou a coordenadora do Programa de Eliminação da Hanseníase no Paraná, Nivera Noemia Stremel. Uma nova campanha para a eliminação da hanseníase no estado deve ser iniciada em outubro deste ano.
A hanseníase é uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen. Ela afeta principalmente os nervos, os olhos e a pele do infectado. A transmissão se dá pela respiração e só ocorre quando há contato prolongado com o doente não tratado. Os sintomas mais freqüentes são manchas claras (esbranquiçadas) e dormentes na pele e ausência de dor nos locais de queimaduras ou cortes. O tratamento é gratuito e oferecido pelo Sistema Único de Saúde. Dura de 6 a 12 meses e não apresenta seqüelas se o diagnóstico for feito no início da doença. "O importante é descobrir a doença no início. Muitos pacientes ainda chegam para receber o tratamento tardiamente e com deformidades físicas", afirmou Nivera. Para tratar esses casos existe uma equipe em Curitiba que realiza cirurgias.
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