Durante cinco décadas, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi a sua segunda casa. Ali ele se formou em Direito e ajudou na formação de algumas dezenas de advogados. Para os alunos, era mais do que mestre, fazendo as vezes de amigo e conselheiro. Para os colegas de profissão, era um jurisconsulto de respostas rápidas e precisas. Altino Portugal Soares Pereira encerrou ontem uma carreira de 66 anos dedicados ao Direito, entrando de vez para a galeria dos grandes juristas do Paraná. Morreu aos 89 anos, vítima de problemas respiratórios.
Altino Portugal começou a escrever sua história profissional em 1939, ao se formar pela UFPR. No ano seguinte começaria a lecionar Direito Civil. Anos mais tarde, já referência no meio jurídico, seria convidado a ocupar uma cadeira de desembargador no Tribunal de Justiça do Paraná. Tal cargo não se enjeita, tamanha sua importância, mas Altino Portugal louvou os méritos do TJ e declinou do convite. "Ele preferia o magistério, era seu sacerdócio", diz a filha Cleusa Pereira de Oliveira Mello.
Mais da metade de sua vida dos 23 aos 70 anos foi dedicada às aulas nas faculdades de Direito e de Ciências Econômicas da UFPR. "Ele sempre dizia que os alunos eram seu maior estímulo." Segundo a filha, ele adquiriu um método muito particular para manter o controle sobre as turmas, algumas de 100, 120 alunos. Quando o mestre batia a aliança na mesa, era hora de parar a bagunça. Depois de se aposentar na universidade, advogou por mais 10 anos.
Na turma formada em 1958, da qual foi paraninfo, despontava o jovem advogado Renê Dotti, que, ao lado do mestre, viria a ser outro grande expoente das letras jurídicas brasileiras. "Ele dignificou a cátedra não apenas pela sua assiduidade nas aulas, mas também pela qualidade intelectual", diz Dotti. Ele destaca ainda a visão humanista do professor, que entendia os alunos não como jovens imaturos, mas como possibilidades infinitas de um futuro promissor para a sociedade.
Para o presidente da OAB-Paraná, Manoel Antônio de Oliveira Franco, foi um dos mais brilhantes representantes da advocacia paranaense e inesquecível colaborador da Ordem dos Advogados do Brasil. "Como professor, foi responsável pela formação de centenas de ilustres profissionais do Direito, marcou o seu tempo e deixará muita saudade." Na avaliação do advogado Peregrino Dias Rosa Neto, o legado de Portugal pode ser medido pela sua inestimável produção de obras científicas na forma de livros e artigos.
Nascido em Campo Largo, foi conselheiro da OAB, membro da Academia Paranaense de Letras Jurídicas e um dos fundadores do Instituto dos Advogados do Paraná. Em 1966, ocupou o cargo de consultor-geral do estado. Em 2003 recebeu da OAB o diploma de reconhecimento por mais de 60 anos de exercício ininterrupto da advocacia. Altino Portugal Soares Pereira foi enterrado ontem, às 17 horas, no Cemitério Municipal de Curitiba.
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