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Laboratório de células-tronco da PUCPR, em Curitiba, viabilizado com recursos da Finep: financia­mento garantido apenas para projetos encorpados e com perfil inovador | Antônio Costa / Gazeta do Povo
Laboratório de células-tronco da PUCPR, em Curitiba, viabilizado com recursos da Finep: financia­mento garantido apenas para projetos encorpados e com perfil inovador| Foto: Antônio Costa / Gazeta do Povo

Entrave

Falta de visão de mercado atrapalha formulação de projetos

Muitas pesquisas concluídas nas universidades acabam não chegando nem ao conhecimento da população. Em parte, isso se deve a pelo menos dois fatores: pesquisadores sem visão de mercado e a falta de projetos inovadores. O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Waldemiro Gremski, explica que a Finep exige projetos encorpados e que prezem pela inovação. "Ainda estamos longe disso. Nem sempre temos projetos nessa linha", afirma.

Para ele, ainda há uma distância quando o assunto é empreendedorismo. "As empresas não pedem novos produtos. É um ciclo. Se não há procura, não há pesquisa que chegue à sociedade", explica. Gremski ressalta, porém, que existem diversas outras pesquisas de alto nível no estado, "mas que nem sempre resultam em desenvolvimento". Graças a recursos da Finep, a PUCPR elaborou um avançado laboratório de células-tronco. "Estamos pesquisando o uso dessas células para tratar doenças de origem cardíaca", afirma. A Finep investiu, segundo o pró-reitor, R$ 1,4 milhão no projeto.

Visão de mercado

Para a pesquisadora Alessandra Zacarias dos Santos, da empresa Esfera Ambiental, a maior dificuldade para que as pesquisas elaboradas nos bancos universitários saiam do meio acadêmico se deve à falta de visão de mercado dos próprios pesquisadores. "Não existem, na maior parte dos casos, pesquisadores com visão e estilo empreendedor, que pensem em viabilizar determinado produto no mercado. Essa é a grande dificuldade", acredita.

Valor destinado a universidades dobra

Apesar da quantidade de projetos ter diminuído, as universidades paranaenses conseguiram quase dobrar os valores aprovados pela Finep de 2007 a 2010. Em 2007, com 18 projetos, o estado somou aproximadamente R$ 14 milhões. Já em 2010 foram 12 projetos, que totalizaram cerca de R$ 27 milhões. Isso significa que, apesar de em quantidade menor, os projetos aprovados foram mais robustos. "Com o crescimento dos valores, concluímos que os projetos de 2010 foram mais importantes, com maior envergadura", diz a coordenadora de pesquisa da Seti, Maria Elizabeth Lunardi.

O único porém é que mais da metade desses valores foi destinada à estruturação física, como compra de equipamentos, para que as universidades possam elaborar as pesquisas. "A Finep permite que as instituições busquem verbas para a estruturação física de novos projetos e pesquisas", explica.

Em 2007 e em 2010, as universidades estaduais foram responsáveis por 56% e 79%, respectivamente, do total arrecadado pelas instituições de ensino superior do estado. A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por exemplo, conseguiu no ano passado quase R$ 1 milhão para a compra de equipamentos para pesquisas. "São equipamentos que podem ser usados por vários cursos e que nos dão estrutura para elaborarmos pesquisas de alto nível", afirma o pró-reitor de pesquisas da instituição, Benjamin de Melo.

Empresas

A iniciativa privada ainda é a responsável pela maior parte do montante destinado pela Finep ao estado. Em 2007, ela respondeu por 85% e, em 2010, por 80% do total – enquanto as universidades paranaenses por 7% e 15%, respectivamente. Contudo, o valor arrecadado pelas empresas caiu de R$ 160 milhões para R$ 144 milhões no período.

O presidente do conselho consultivo da Gauss, sediada em Curitiba, Roque Borgonovo, diz que os recursos oriundos da Finep auxiliam tanto no desenvolvimento de novos produtos tecnológicos quanto na ampliação dos já existentes. "O maior atrativo está nas taxas de juros praticadas, que ficam bem abaixo dos padrões de mercado."

A empresa conseguiu no ano passado cerca de R$ 3 milhões do órgão. Com o recurso, a empresa adquiriu novos equipamentos e mão de obra especializada para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento de equipamentos elétricos, como sensores automotivos com circuitos híbridos montados sobre uma placa de cerâmica.

O Paraná foi ultrapassado por outros estados nos investimentos em inovação nos últimos anos. Estudo elaborado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), em parceria com a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), revela que o estado obteve, em 2007, R$ 187 milhões via Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), atrás apenas de São Paulo e Rio Grande do Sul em volume de recursos. Mas esse quadro mudou.

Em 2007, o Paraná recebia mais de 10% das verbas repassadas pelo órgão. Apenas três anos depois, em 2010, o valor caiu para R$ 179 milhões e o estado foi ultrapassado por Santa Catarina, Rio de Janeiro e Pernambuco – passando a receber 5% do total investido pela Finep. Foi o único estado a apresentar variação negativa, no caso 4%.

Em número de projetos, o Paraná também registrou um índice negativo de 13% no período – oscilando de 48 para 42. Em 2011, foram somente 33 projetos financiados no estado. A Finep, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, é a principal fonte de recursos para bancar pesquisas que podem gerar novos produtos tanto nas empresas quanto nas universidades.

A queda no número de projetos é preocupante a longo prazo. Quanto mais empresas e centros de pesquisa inovadores tem uma região, maior as chances de ela ter empreendimentos fortes e formar mão de obra qualificada na área tecnológica. O resultado pode ser um estado com uma economia menos dinâmica e com mais dificuldade em atrair investimentos e pessoas com perfil inovador.

"A demanda do Paraná é muito modesta. Minas Gerais, por exemplo, demanda mais e consequentemente tem mais repasses", alerta o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da PUC-PR, Waldemiro Gremski.

A falta de bons projetos explica a queda dos repasses da Finep ao estado. "Para ser aprovado, tem que ser inovador. Essa é a grande dificuldade. E sem projetos inovadores não se criam riqueza e muito menos desenvolvimento para o estado e para o país. Muitos pesquisadores publicam artigos e estudos, mas não criam nada de concreto", critica.

Timidez

A coordenadora de pesquisa da Seti, Maria Elizabeth Lunardi, afirma que o estado ainda se mostra tímido quando o assunto é inovação. "Em números gerais, a gente percebe que o Paraná poderia ter pelo menos mantido o número de projetos apresentados para a Finep. Mas isso não ocorreu. Ainda estamos atrás de outros estados, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina", avalia.

Essa timidez está associada a uma apatia dos pesquisadores, que não conseguem emplacar projetos que possam ser financiados pela Finep. "O fato é que o Paraná ainda demora mais para apresentar projetos quando comparamos com o restante do país. Mas, aos poucos, esperamos que isso mude", opina a coordenadora de pesquisas da UFPR, Graciela Bolzon Muniz.

Exemplo

Remando contra esse cenário, a engenheira química Alessandra Zacarias dos Santos, da empresa Esfera Ambiental, incubada na Universidade Estadual de Maringá (UEM), obteve R$ 400 mil da Finep em 2010. Em dois anos, deverá ser desenvolvido um novo sistema que poderá tratar e reutilizar o esgoto, exceto o oriundo do vaso sanitário. "A gente teve que fazer o projeto, esperar ser aprovado e depois finalizar o produto para que ele possa ser útil à sociedade", explica.

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