Dificilmente um cachorro ataca alguém sem "motivos". De acordo com o professor de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Paulo Parreira, especialista em comportamento animal, o cachorro só ataca alguém quando entende que seu território está em perigo. "Tudo o que o cão vê, escuta e fareja torna-se seu território", conta. Pode-se entender então, que tudo o que se move é alvo do animal. Por esse motivo, só nos hospitais do Paraná, em 2011, foram mais de 37,6 mil acidentes com bichos notificados, segundo a Secretaria de Saúde do Paraná uma média de cem registros por dia. Esses, em geral, são atendimentos graves. Nessa conta não entram os acidentes leves, os que comumente acontecem.
Diante desse quadro, o Hospital Universitário Cajuru, que é referência no atendimento de traumas no estado, lança neste ano, a segunda edição da Campanha de Conscientização e Prevenção de Acidentes com Cães. "Em 2010 o Cajuru atendeu 348 casos graves de acidentes com cães. Aproximadamente 30 por mês. Após a primeira campanha, o número caiu para 261. Uma redução de 33%", conta Simonne Simioli, gerente médica do hospital. E os cães não escolhem idade para atacar. Quando o acidente é com crianças, normalmente o animal é da própria casa e isso facilita os cuidados médicos, de acordo com Simioli. Os adultos costumam ser atacados também por animais de terceiros ou que vivem nas ruas.
Profissionais
O sucesso da campanha passada fez com que algumas empresas de Curitiba, que têm em seus funcionários os principais interessados na conscientização da população, aderissem ao projeto. Esta segunda edição, que acontece hoje e amanhã, conta com o apoio da Cavo (empresa responsável pela coleta de lixo da capital e região metropolitana), dos Correios, da Copel e Sanepar. Juntas, essas quatro empresas somaram, entre janeiro e março deste ano, 66 registros de acidentes, só em Curitiba e região metropolitana.
Para esses profissionais, a recomendação dos especialistas é que atenção seja redobrada, principalmente para aqueles que costumam correr, como os coletores de lixo. Além disso, os coletores, carteiros e leituristas não devem projetar o corpo, mão ou braço para dentro do imóvel sem ter a certeza de que o animal não está perto. Por vezes eles se escondem atrás de folhagens ou muros. Evitar gritos ou gestos ameaçadores também é importante, já que a mera presença estranha estimula o animal.
Por lidar com objetos cortantes, a Cavo já disponibiliza aos seus funcionários sapatos reforçados, calças com proteção lateral, luvas e camisas com mangas compridas. Jeferson Pereira Elias, de 28 anos e há três anos e meio na empresa, conta que o uniforme ajuda muito na hora do ataque, mas ainda assim, vez ou outra a mordida ultrapassa a proteção. "Uma vez fui mordido e o ferimento foi profundo. Avisamos a empresa e o técnico de segurança do trabalho veio me ajudar. Precisei tomar a vacina antirrábica".