• Carregando...
Starlin, de 7 anos, diante de um dos obstáculos da Escola Maria de Lourdes Affonso Heimbecher | Marco Favero
Starlin, de 7 anos, diante de um dos obstáculos da Escola Maria de Lourdes Affonso Heimbecher| Foto: Marco Favero

"Estamos tendo uma falsa inclusão no Brasil. A criança que chega a uma escola sem adaptação alguma, sem sala preparada, sofre grande desmotivação. Algumas desistem de ir para a escola."

Juliana Leandra de Paula Castro, psicopedagoga especializada em educação inclusiva

Sem adaptação

País vive falsa inclusão e restrições levam à evasão escolar, diz especialista

A psicopedagoga paulistana Juliana Leandra de Paula Castro, especializada em educação inclusiva para crianças portadoras de deficiência, acredita que falta sensibilidade no tratamento político da questão. "Estamos tendo uma falsa inclusão no Brasil. A criança que chega a uma escola sem adaptação alguma, sem sala preparada – seja qual for a deficiência dessa criança – sofre grande desmotivação. Algumas crianças desistem de ir para a escola", critica. Ela ainda aponta que, muitas vezes, a falta de equipamentos de acessibilidade reflete na ausência de profissionais especializados para ajudar no processo de inclusão.

Juliana é motivada pelo próprio exemplo em suas pesquisas. O filho dela é portador da Síndrome de Lowe, doença genética rara que provoca deficiência mental e física. "Quando eu me tornei mãe especial, comecei a estudar, em uma busca se fim, tentando melhorar [a inclusão] não somente para o meu filho, mas para todos", salienta.

Barreiras

Starlin tem de se adaptar à rotina em uma escola não adaptada para ele

Quando começou a estudar na escola Maria de Lourdes, Starlin usava um andador. O menino teve má formação numa das vértebras, o que limita os movimentos do corpo. Pequenas rampas foram construídas para ele poder se locomover na escola. Com o objetivo de dar a ele mais autonomia, o andador foi trocado por uma cadeira de rodas. Apesar de poder andar pela escola e brincar mais livremente, algumas barreiras permanecem. Além dos degraus do portão, existe uma escada que leva à quadra de esportes.

"Quando ele vai fazer Educação Física, tem que deixar a cadeira na parte de cima da escada. Alguém desce com ele no colo primeiro e depois pega a para ele poder usar. Não tem como descer e subir a escada com ele na cadeira", afirma a mãe, Jucimara. A diretora da escola, Ângela Aparecida da Costa, afirma que já solicitou melhorias no acesso dentro da escola, mas ainda não teve resposta. "A dificuldade existe, mas eu e todos aqui da escola fazemos de tudo para que ele se sinta bem no dia a dia", salienta.

Todos os dias, à tarde, Starlin Rael Spunar, de 7 anos, vai estudar na Escola Municipal Maria de Lourdes Affonso Heimbecher, em Porto Amazonas (Campos Gerais). Os três degraus atrapalham o manuseio da cadeira de rodas, mas ele sempre entra pelo portão principal, com a ajuda da mãe, Jucimara Spunar. "Até existe um portão lateral, sem degraus, mas ele prefere entrar por este. Ele não quer se sentir diferente", diz a mãe.

Porto Amazonas é uma das 95 cidades do Paraná que declararam ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não possuir nenhuma escola municipal apta a receber estudantes com algum tipo de necessidade especial, como deficiência motora, visual, auditiva ou mental. Os dados são de 2011 e estão registrados na pesquisa "Perfil dos Municípios – Gestão Pública".

Enquanto isso, em 2010 havia mais de 45 mil crianças entre 6 e 9 anos de idade com algum tipo de deficiência no Paraná, segundo dados do Censo do IBGE. Dessas, mais de 43 mil frequentavam algum estabelecimento de ensino no estado. As escolas municipais de ensino fundamental recebem alunos entre 6 e 10 anos de idade – do primeiro ao quinto ano. Mesmo não contabilizando a faixa dos 10 anos, os números do Censo ajudam a mensurar o universo de crianças com alguma deficiência no Paraná.

Apesar do tamanho do problema, nem a Secretaria Estadual de Educação (SEED) e nem o Ministério da Educação (MEC) possuem programas específicos para a adaptação dos espaços físicos nas escolas municipais, ainda que a legislação garanta o acesso de todas as crianças ao ensino regular.

Longe do ideal

De 2011 para cá, duas escolas municipais de Porto Amazonas (Benedita Vieira Iatzski e Antônio Tupy Pinheiro) receberam algumas adaptações, como rampas para facilitar o acesso de pessoas com deficiência, mas a secretária municipal de Educação, Marli Terezinha Kandalski, reconhece que a situação está longe do ideal. Já na escola onde Starlin estuda existem apenas algumas pequenas rampas, especialmente construídas para que ele pudesse se locomover quando começou a estudar no local, há três anos.

"Temos pouco mais de 400 alunos na nossa rede municipal e ele, por enquanto, é a única criança do município que precisa de mecanismos de acessibilidade", afirma Marli. A mãe conta que foi oferecida ao filho uma vaga em outra escola, mais adaptada. "Só que eu teria que atravessar a cidade com ele. Seria muito mais difícil. Aqui estou bem mais perto de casa", relata Jucimara.

Obras baratas

Também na região dos Campos Gerais, Piraí do Sul é outra cidade que declarou ao IBGE não possuir nenhuma escola apta a receber crianças com deficiência na rede municipal. Porém, a situação vem mudando. Desde 2011, quatro escolas receberam adaptações ou foram construídas com meios de acessibilidade, como rampas e banheiros especiais. Porém, o município conta com pouco mais de 20 escolas na sua rede.

"As adaptações não são obras caras de se fazer e nós gostaríamos de fazê-las em todos os locais, mas não existe um cronograma. Esta gestão já está se encerrando, mas espero que as obras continuem nos próximos mandatos", comenta o secretário municipal de Educação de Piraí do Sul, Márcio Fernandes de Lima.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]