“Não dá para colocar o adesivo já amanhã de manhã?” Foi com essa ansiedade que Maria Roseli Lima da Silva, 53 anos, chegou quinta-feira (27) à reunião semanal do grupo de tabagismo da Unidade de Saúde Solitude, em Curitiba. Depois de passar por um cateterismo mal sucedido e uma angioplastia no começo deste mês, ela quer mudar de vida e deixar de fumar. Por enquanto, Maria Roseli engrossa a estatística do número de fumantes do Paraná. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE, a proporção de fumantes diários de tabaco no estado chega a 16,4% da população, o maior índice entre todos os estados brasileiros. A média nacional é de 12,7% e, na Região Sul, 14,4%.
Conheça um pouco mais da saúde dos brasileiros.
Saiba mais detalhes sobre os hábitos alimentares dos paranaenses.
Essa é a primeira pesquisa que aponta o Paraná no topo do ranking do tabagismo. A PNS selecionou 81,7 mil domicílios no Brasil e apontou os hábitos alimentares e de saúde da população acima de 18 anos, em questionários aplicados em 2013. Na Pesquisa Especial de Tabagismo de 2008, a partir dos dados de amostra de domicílios do IBGE, o Paraná ocupava a sexta posição entre os estados, mas foi usada uma metodologia diferente que não permite comparações.
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Unidades de saúde em todo o Paraná oferecem tratamento para pessoas que querem deixar de fumar. As despesas no Sistema Único de Saúde relacionadas com o tabagismo são de R$ 21 bilhões, valor 3,5 vezes maior do que o arrecadado em impostos cobrados da indústria do tabaco.
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O IBGE considera tabaco os produtos que usam nicotina, que podem ser cigarro, charuto, cigarro de palha, rapé (que é aspirado) e fumo-de-rolo (que é mascado). Entre os fumantes do Paraná, aproximadamente metade (51,5%) disse que tentou parar de fumar nos 12 meses anteriores à pesquisa. Mas apenas uma pequena parcela buscou tratamento com profissional de saúde: 9,4%
Idosos e jovens
São os mais afetados com o fumo passivo dentro de casa. Dez por cento da população sofre com isso. Entre 18 e 24 anos, o índice sobe para 11,9%. Entre as pessoas com mais de 60 anos, 12,4% enfrentam o problema. Na média nacional, o grupo mais afetado é o de 18 a 24 anos: 16,2% .
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Segundo a prefeitura de Curitiba, as 109 unidades de saúde da cidade têm equipes preparadas para dar orientações e encaminhar os interessados para grupos de tratamento próximos. O tratamento consiste na avaliação médica e psicológica e em encontros semanais com uma equipe multidisciplinar para ajudar e motivar as pessoas a largarem do vício. Dependendo do caso, são receitados adesivos de nicotina em uma dosagem menor do que a pessoa costuma consumir diariamente.
Metade tentou parar
Entre os fumantes do Paraná, aproximadamente metade (51,5%) disse que tentou parar de fumar nos 12 meses anteriores à pesquisa. Mas apenas uma pequena parcela buscou tratamento com profissional de saúde: 9,4%.
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Normalmente, as equipes de acolhimento orientam as pessoas a ficarem pelo menos um dia sem fumar antes de iniciar o tratamento. Por isso, Maria Roseli não conseguiu realizar seu desejo. E, além disso, ela precisava de orientação para saber que o adesivo, por si só, não livra a pessoa da dependência. Não foi suficiente, por exemplo, para fazer Maria do Rocio Machado Domingues, 58, abandonar o cigarro. Ela fuma desde os 15 e está com enfisema pulmonar. No encontro semanal foi sincera: “Sei que faz mal, mas também penso que já que é para morrer, vou morrer fumando. Não sei se é psicológico, mas não consigo parar. Usei remédio, adesivo, fiquei três dias sem, mas voltei.”
Direção perigosa
Um quarto da população diz que dirige logo após beber. O costume é mais forte na faixa etária de 25 a 39 anos: um terço confirma a direção perigosa. As pessoas mais instruídas são as que menos dirigem após consumir álcool.
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“O que a gente vê é que o cigarro serve de apoio, é uma companhia para a pessoa, por isso fica muito difícil largar”, relata a enfermeira Maria José Ayroza, coordenadora do programa de tabagismo no Solitude. “Se a pessoa não tem fatores protetores mais fortes, apoio familiar ou de outra forma, não há motivação”, completa a psicóloga Gislaine Maria Thomaz, que faz também tratamentos individuais com quem quer largar do cigarro.
Os dados da PNS mostram que é grande a difusão dos malefícios da nicotina: 88% dos fumantes no Paraná observaram as advertências nos maços de cigarro. Mas apenas 55% disse que pretende parar por causa disso.
“Melhor hora de parar é agora”
O professor e palestrante João Cândido Pereira de Castro Neto, 60 anos, fumou entre os 15 e 31. Catorze anos após parar, foi diagnosticado com câncer na laringe. Segundo o diagnóstico médico, a lesão ocorreu pelo uso excessivo da voz, mas o câncer se desenvolveu por causa do histórico de tabagismo. “Foi um choque imenso. Não só pela doença, mas por afetar o meu instrumento de trabalho, que era minha voz. Não sabia o que ia fazer, entrei em depressão.”
Cândido passou por 18 cirurgias, e por fim retirou a laringe. Hoje usa um aparelho que lhe permite conversar normalmente, mas com a voz robótica. “As pessoas se surpreendem, ficam um pouco chocadas. Mas bem-humorado e otimista, e quero mostrar que as pessoas podem ter uma vida profissional e social normal.”
Campanha
O rosto do professor e sua voz metálica protagonizam uma campanha do governo do Paraná para apresentar, nas redes sociais, os malefícios do cigarro e marcar o Dia Nacional de Combate ao Fumo. “O câncer de laringe afeta diretamente a imagem da pessoa, que se retrai e passa a viver a vida como uma sala de espera da morte.”
Apesar da campanha, Cândido diz que não atua ativamente contra o cigarro. “Acho que é uma interferência indevida. Se eu puder, quero ajudar as pessoas a refletir”, diz. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, 19,3% da população paranaense é ex-fumante. A proporção é mais alta na faixa etária do professor: 32,1%. Sobre desenvolver câncer mesmo anos após parar de fumar, Cândido é categórico: “A melhor hora de parar de fumar é agora.”
VÍDEO - A saúde dos brasileiros
Hábitos
A Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE questionou os brasileiros sobre seus hábitos alimentares, doenças e atividades esportivas.
Alimentação
Refrigerantes
Vinte e dois por cento dos brasileiros tomam refrigerante ou suco regularmente. No Paraná o índice é maior (25,8%), e os homens são os que mais consomem: 28,4%.
Sal
O consumo de sal é muito alto para 14,2% dos brasileiros e 16% dos paranaenses.
Carne
Os homens paranaenses estão entre os que mais consomem carne com gordura: 56,9%, o quinto maior índice do Brasil. A média nacional é 37,2% entre a população geral e 47,2% entre os homens.
Verduras e frutas
Apesar das escapadinhas com alimentos não saudáveis, boa parte dos paranaenses (38,1%) dizem que consomem hortaliças e frutas regularmente, índice próximo à média nacional (37,3%).
A vida é um doce
As curitibanas são as mais “gulosas” do Brasil. Um terço das moradoras diz que consome doces regularmente. A média nacional é de 22,4% entre as mulheres. No Paraná, 24% comem doces regularmente. É o quarto maior índice do Brasil, atrás de Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul. O consumo é maior na faixa etária de 18 a 24 anos (31,7% comem regularmente) e menor entre os 40 e 59 anos (21%). Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, a gula tem relação com o nível de instrução. Entre as pessoas com Ensino Superior no Paraná, a proporção de pessoas que come doces regularmente sobe para 31,9%. E, entre os sem sem instrução ou com fundamental incompleto, o índice cai para 21,7%. Essa característica também é observada no restante do país, principalmente no Sul.
Saúde
Dor na coluna
Os paranaenses são os que mais relatam problemas crônicos de coluna no Brasil. O índice é de 26%, contra 18,5% na média nacional.
Coração
Entre as pessoas com doenças do coração no Paraná, 21,2% já fizeram alguma cirurgia, semelhante à média nacional. Mas na Região Sul a proporção é maior: 27,1%.
Asma
No Paraná, o diagnóstico de que a pessoa tem asma é feito bem mais tarde do que no restante do Brasil. No estado, a idade média da pessoa quando soube que tinha a doença é aos 22,6 anos. No Brasil, a idade média é 17,5.
Trabalho suado
Entre as mulheres, 19% dedicam 150 minutos semanais a atividades de faxina pesada em casa. Entre os homens, 26,3% fazem 150 minutos ou mais de atividade vigorosa no trabalho.
Depressão
Muitos paranaenses diagnosticados com depressão não gostam de falar sobre o assunto nos consultórios. Apenas 9,1% dos doentes fazem psicoterapia. No Brasil, entre os diagnosticados, 16,4% frequentam tratamento do tipo.
Lazer
Apenas 21,4% dos paranaenses têm tempo de lazer recomendado. Quem mais se preocupa com isso são as pessoas de 18 a 24 anos: um terço delas faz exercícios regularmente.
Percepção
Mesmo com alguns problemas, grande parte dos paranaenses tem a percepção que sua saúde é boa ou muito boa: 69,7% da população.
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