O Paraná tem hoje o menor índice de policiais por habitantes das regiões Sul e Sudeste, isto é, um homem para cada grupo de 476,19 pessoas. O estado tem ainda o terceiro menor contingente policial das duas regiões, só ganhando em números absolutos de Santa Catarina e Espírito Santo – que são menores, mas que ainda assim têm a média de um policial para cada grupo de 360 habitantes.

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Já a Região Sudeste alia a melhor média (um policial para cada grupo de 330 habitantes) à mais alta taxa de violência do país. Segundo especialistas, como o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o ideal seria ter um policial para cada grupo de 350 habitantes, desde que a concepção de policiamento fosse diferente.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o Paraná tem 21 mil homens na ativa (cerca de 17 mil militares e cerca de 4 mil civis) para atender a população estimada em 10 milhões. Isso sem contar a fila da aposentadoria, que pode reduzir ainda mais o efetivo nos próximos anos.

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No entanto, ter o maior contingente e o melhor índice não são sinônimos de segurança. Em São Paulo, berço da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), há um policial para cada grupo de 333,33 habitantes. No Rio de Janeiro, onde o tráfico de drogas barbariza, há um policial para cada grupo de 323,6 habitantes.

Segundo a socióloga Julita Lemgruber, pesquisadora da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, não há uma receita nem um número mágico de policiais para resolver todos os problemas de segurança. "Tudo depende da situação do estado, da sua criminalidade. Não se pode simplesmente se tomar como parâmetro o número da ONU, abstraindo as características locais. É claro que a situação do Rio de Janeiro é muito mais grave que a do Paraná. Não é possível comparar os dois estados. É preciso fazer a análise em cima da taxa de criminalidade – o número de homicídios no Rio de Janeiro é mais que o dobro do Paraná (dados do SUS, de 2002)", afirmou.

Julita Lemgruber destacou que a quantidade de policiais é só uma das variáveis nas políticas de combate à criminalidade. "Ela tem um peso muito relativo. Mais importante são as políticas de prevenção. Em São Paulo, por exemplo, os seus índices de criminalidade estão diminuindo. Entre os anos de 1999 e 2003, houve uma queda de 12% dos homicídios no estado. Em Diadema, a taxa foi reduzida pela metade nesse período", afirmou.

Ela lembrou ainda que é preciso ter uma polícia competente, inteligência e um diagnóstico sobre a criminalidade para distribuir o efetivo policial. "Em 16 municípios do estado de SP, um estudo mostrou que muitas mortes ocorriam nas imediações de bares. A constatação resultou na lei seca (proibir venda de bebidas) que reduziu o número de homicídios", contou Julita.

O sociólogo Pedro Bodê disse que só aumentar o número de policiais não aumenta a segurança. "Precisamos de uma nova estrutura policial. No Rio de Janeiro e São Paulo, o contingente realmente é maior, mas a violência também é maior. É preciso mudar a atuação da polícia. Ela precisa ser reestruturada. Nos EUA, por exemplo, não existe uma relação direta entre o contingente e a queda da violência", disse. Segundo Bodê, o essencial é ter policiais preparados para uma sociedade moderna. O negócio não é a quantidade, mas a qualidade e uma polícia desmilitarizada", explicou o sociólogo.

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Sindicatos

Segundo o presidente do Sinclapol (Sindicato das Classes Policiais do Estado), Paulo Martins, o Paraná precisaria no mínimo dobrar o número de policiais civis para oferecer um melhor serviço à população. "O nosso efetivo é insuficiente por causa do tamanho da população e dos cerca de 9 mil presos que estão em delegacias. Em função disso, a maioria dos policiais civis acaba trabalhando na guarda de presos", afirmou.

O coronel da reserva Elizeu Furquim, que representa uma associação de policiais militares, acredita que a situação pode ser pior. "A PM não tem 17 mil homens, embora a lei diga que a corporação deva ter 20 mil homens. O ideal seria ter 27 mil policiais militares", disse Furquim, afirmando que hoje os policiais estão sobrecarregados, fazem horas extras e têm pouco tempo para se reciclar, estudar e desenvolver outras atividades necessárias ao aprimoramento profissional.

O coronel Furquim estimou que o efetivo da Polícia Militar deve ser reduzido ainda mais nos próximos anos. "A média de aposentadoria será de 1 mil a 1,5 mil homens, pelo menos nos próximos cinco anos. É por isso que o governo não está conseguindo repor o efetivo, apesar de estar fazendo concursos públicos.

O presidente do Sinclapol também contestou o número oficial de policiais civis, afirmando que, fora os delegados, a Polícia Civil tem 2.941 homens.

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