O alto índice de infestação por dengue em janeiro, o primeiro caso residente do sorotipo quatro da doença e o clima propício à reprodução do mosquito Aedes aegypti têm deixado pesquisadores e gestores em alerta sobre o risco de uma epidemia no Paraná neste primeiro semestre. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), 1.269 casos da doença foram registrados de agosto de 2012 até agora, dos quais 602 apenas na última semana. Cinco municípios, que concentram 80% dos casos, estão em situação de epidemia: Peabiru e Fênix, ambos na Região Centro-Oeste, e São Carlos do Ivaí, Japurá e Paranavaí, no Noroeste.
"Nunca tivemos no Paraná, no começo de janeiro, a situação de epidemia em cinco cidades e a entrada do sorotipo quatro", observa o coordenador do Laboratório de Climatologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Francisco Mendonça. Ele pesquisa a doença desde 1993, quando foram confirmados os primeiros casos autóctones (contraídos dentro do próprio estado), e diz estar temeroso de uma "fortíssima epidemia de dengue".
A incidência da doença no estado é de 11,25 casos por 100 mil habitantes, considerada baixa pelo Ministério da Saúde. No entanto, o número de casos autóctones confirmados está em ascensão: foram 1.174 registros de agosto de 2012 até agora, contra 272 no mesmo período de 2011 e 2012 um crescimento de 331,6%. Segundo a Sesa, a alta se deve à antecipação do momento epidêmico, com o aumento de casos no segundo semestre de 2012, ao contrário do que ocorreu em 2011.
Mendonça observa que, historicamente, o período de novembro a janeiro costuma ser de chuvas intensas, situação na qual o mosquito da dengue não sobrevive. Dessa forma, normalmente a epidemia ocorre no estado entre meados de fevereiro a meados de abril, quando o calor se soma a chuvas intermitentes, situação que acabou sendo antecipada.
Preocupação
O infectologista José Luiz de Andrade Neto, professor da UFPR e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que a chegada do novo sorotipo gera preocupação porque a população fica totalmente vulnerável. "Quando você tem a introdução de um novo sorotipo, passa-se a ter uma nova doença. É como se você tivesse ampliado o leque da doença, porque vai haver uma população suscetível a ela", diz.
O que também preocupa é o crescente índice de infestação, calculado por meio do levantamento de larvas do mosquito. "Temos constatado nos últimos levantamentos o aumento da infestação de maneira significativa", diz o superintendente de Vigilância em Saúde da Sesa, Sezifredo Paz. Em Londrina, por exemplo, o índice está em 8%, o pior já registrado desde 1998.