Três paranaenses de Toledo, Oeste do Paraná, que estavam na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, sobreviveram à tragédia que matou 231 pessoas na madrugada deste domingo (27). Elas conseguiram sair porque chegaram mais tarde ao local e ficaram próximas à saída.
O grupo de amigas foi à cidade gaúcha para encontrar com amigos e passar o carnaval na cidade. Durante o sábado (26), elas participaram de um churrasco. A festa se alongou até o fim da noite, o que fez com que elas chegassem à casa noturna por volta das 2 horas da manhã cerca de 30 minutos antes do incêndio no estabelecimento.
Franciele Mayara, de 23 anos, uma das sobreviventes do Paraná, relatou à Gazeta do Povo que a amiga Michely Fant, de 30 anos - que também na festa na boate Kiss -, tem parentes no município. A terceira paranaense integrante do grupo, moradora de Toledo, de 26 anos, prefere não se identificar, de acordo com Franciele.
A sobrevivente disse que estava na área VIP da balada, perto da única porta de entrada e saída, quando percebeu um tumulto na parte da frente, próximo do palco. Franciele contou que, a princípio, o grupo que estava com ela achou que era uma briga e começou a procurar a saída para evitar o tumulto.
No meio do caminho, várias pessoas começaram a gritar que se tratava de um incêndio, que tinha começado depois que um dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira acendeu sinalizadores como parte da apresentação.
Segundo ela, os seguranças da única porta de entrada e saída, inicialmente, acharam que uma briga ocorria no local. Eles trancaram a saída por cerca de cinco minutos exigindo o pagamento da comanda, papel onde está anotado o consumo de cada cliente da boate. "Uma menina que estava atrás gritou alto fogo, fogo, e eles liberaram a porta, ajudaram a puxar gente pra fora, e nisso a fumaça já estava tomando conta do local", contou a paranaense.
O tumulto começou, segundo Franciele, quando todos perceberam que se tratava de um incêndio. As chamas tomaram conta do prédio rapidamente. "Nessa hora, em questão de dois minutos ficou tudo preto, a fumaça foi fazendo o pessoal desmaiar e foi todo mundo caindo, pisoteando e tentando sair", relatou Franciele.
Mychelli Fant, 30 anos, disse à RPC TV que caiu na hora do tumulto e foi pisoteada por algumas pessoas que tentavam sair da boate. Ela contou que uma pessoa desconhecida a levantou e ajudou para que ela saísse com vida de dentro do estabelecimento.
Mychelli disse à RPC TV que também viu os seguranças impedindo a passagem por cerca de cinco minutos. "Esses minutos que eles seguraram foi onde o pessoal começou a se apavorar e muitos foram para o banheiro, e o acesso foi interrompido, querendo ou não. Com duas portas estreitas, não tinha como. Eu acho que eles deveriam ter visto e liberado", disse à emissora de tevê.
Também em entrevista à emissora, o empresário de Toledo Osvaldo Saraiva afirmou que o sobrinho dele Gustavo Cadore, 32 anos, estava na boate Kiss na hora do ocorrido e, como se intoxicou com a fumaça, está internado em estado grave em um hospital de Porto Alegre, respirando com a ajuda de aparelhos. Cadore teve 40% do corpo queimado.
Segundo consta em sua página na rede social Facebook, o estudante é natural da capital gaúcha e cursa doutorado em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Santa Maria(UFSM).
Procura por amigos
"Todo mundo que saiu sabia que tinha muita gente lá dentro que não conseguiu sair. Tinha umas 1,2 mil pessoas lá dentro e os amigos ficavam procurando uns ao outros. Do nosso grupo todo mundo conseguiu sair, mas todo mundo ficou lá até amanhecer em busca de notícias de amigos que não apareciam", disse Franciele Mayara.
Os amigos, segundo Franciele, ajudaram os agentes do Corpo de Bombeiros a abrir outras entradas na parede para tentar resgatar sobreviventes. "Eles colocaram blusas no rosto e ajudaram os bombeiros a quebrar as paredes. Quando estávamos lá fora, todo mundo que podia ajudou".
Depoimento
O grupo de amigas está em Santa Maria para prestar depoimentos à polícia. As autoridades também fazem registros dos objetos perdidos pelo caminho na tentativa de fuga. "Caiu a bolsa com todos os documentos, ficamos sem cartão, sem documentos, chaves do carro, tudo foi perdido", disse Franciele.
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